Minha life tem pouco style

Anseio pelas investigações do jornalismo de lifestyle e seu Pulitzer do rebotalho

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Tenho estado atento ao modo como as notícias de lifestyle têm invadido as páginas dos jornais como um câncer ("As cinco melhores frutas silvestres na prevenção do câncer. Você não vai acreditar na terceira").

O primeiro fato saliente das seções de lifestyle é o próprio título. Já tínhamos política, economia, sociedade, internacional, cultura e esporte. Fazia falta, ao que se constata agora, uma categoria em estrangeiro, que albergasse uma série de notícias rejeitadas pelas rubricas tradicionais.

O admirável poder de síntese da língua inglesa é, neste caso, muito útil, uma vez que um eventual nome em português da seção lifestyle teria de ser qualquer coisa como "repositório de curiosidadezinhas meio bobas encontradas na internet, dicas de beleza e charlatanices pseudocientíficas em geral", o que seria demasiado comprido, com muita pena minha e de todos os amantes do nosso idioma.

Vale a pena fazer uma pesquisa rápida pelo lifestyle dos veículos internacionais, para percebermos melhor como o mundo mudou. Uma publicação propõe a seguinte peça jornalística: "25 razões para gostar do outono". Não sei como foi possível, mas houve um tempo em que as pessoas passavam pela vida sem que os meios de comunicação social lhes dessem razões para apreciar estações do ano. Entre as 25 razões para gostar do outono, o artigo destaca "ficar em casa" e "batons", que, de fato, são o tipo de coisa que, na primavera, verão e inverno, faz menos ou nenhum sentido.

Um jornal publica um interessante artigo intitulado "O que são os pontinhos brancos que temos nas unhas?" e depois dedica 3.000 caracteres a apresentar a seguinte resposta: "Nada de especial".

Outro jornal, na mesma edição em que apresenta um "iPod para cães que sofrem de ansiedade", avança com uma questão central: "Setembro é o melhor mês para fazer anos?". E responde afirmativamente à pergunta, justificando com um conjunto de 13 motivos (menos 12 do que as razões para gostar do outono, mas ainda assim um trabalho de fundo) entre os quais sublinho, e cito: "Os signos mais legais."

Anseio pelas excelentes investigações que essa nova categoria vai proporcionar, e por conhecer as figuras maiores do jornalismo lifestyliano, os Woodward e Bernstein da mixaria, e cá estarei para os aplaudir, quando vencerem o Pulitzer do rebotalho.

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