Desabrigados após queda de prédio podem deixar acampamento de praça

Acampados ganharão auxílio-aluguel; bombeiros alcançam 'zona habitável' nos escombros

Desabrigados acampam em frente à igreja Nossa Sra. dos Homens Pretos, no largo do Paissandu; ao lado das barracas, doações recebidas - Marcelo Justo/Folhapress
 

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Rodrigo Borges Delfim
São Paulo

Moradores da ocupação no largo do Paissandu, em São Paulo, que ficaram desabrigados após o desabamento do antigo prédio da Polícia Federal, devem deixar a praça nesta sexta-feira (4).

A expectativa é de Ricardo Luciano Lima, o Careca, um dos integrantes do MLSM (Movimento Social de Luta por Moradia), antigo LMD (Luta por Moradia Digna), após reunião na quinta (3) com representantes da Prefeitura de São Paulo.

"As pessoas já estão cansadas, não aguentam mais ficar aqui e querem tocar suas vidas. Aqui [no meio da praça] não é lugar para ninguém. É risco de contaminação, presença de ratos, além da fumaça tóxica [dos escombros do prédio]", afirmou.

De acordo com Lima, os moradores do prédio que caiu serão levados para o abrigo Pedroso, na região da Bela Vista. Lá, segundo o integrante do MLSM, serão cruzados os cadastros das famílias que estavam no prédio com os da prefeitura, visando a concessão de auxílio-aluguel. 

Os beneficiados deverão receber auxílio-aluguel pelo período de um ano —R$ 1.200 no primeiro mês e R$ 400 nos seguintes.

Além das condições precárias do acampamento a céu aberto formado na praça, a presença de integrantes de outras ocupações e de moradores em situação de rua gerou desentendimentos e disputa pelas doações.

Por esse motivo, Lima também pediu que não sejam mais trazidas doações para o largo do Paissandu. "Melhor não receber mais aqui no local para não atrair mais pessoas de outros lugares e que chegam com o interesse de pegar as doações".

 

DIREITOS

Passadas mais de 72 horas após o desabamento do prédio, as pessoas ainda acampadas na praça demonstram impaciência e, sobretudo, cansaço com a situação.

É o caso da faxineira desempregada Neusa Cavalcante de Souza, que morava no térreo do prédio que desabou. "É difícil ficar aqui, às vezes vamos em banheiros de bar [para higiene pessoal]. É muita humilhação".

Depois de três noites acampadas com uma filha e três netos, Neusa e sua família devem ir para o abrigo Pedroso. No entanto, ela espera que essa não seja a saída definitiva apresentada pelo poder público.

"Podemos ir para abrigo, mas queremos o direito da gente. O importante mesmo é ter um lugar para colocar a cabeça embaixo, uma moradia".

BUSCAS

Os Bombeiros trabalham sem trégua na remoção dos escombros, em ações de busca e salvamento e na liberação das vias vizinhas ao prédio. De acordo com o capitão Paulo Maculevicius, a operação segue pelo menos até o final de semana, quando deve ser feita uma nova avaliação.

Desde a madrugada de quinta (3), as equipes atuam com maquinário pesado, sendo três escavadeiras, dois marteletes e um trator. Embora a busca por vítimas continue, é cada vez mais improvável encontrar alguém ainda com vida sob os escombros. Na madrugada eram 46 homens trabalhando no local. 

Já foram encontrados botijões, um armário com roupas, motores de máquina de lavar e restos de alimentos entre os destroços. "Não quer dizer que estamos próximos de encontrar alguma vítima, mas sim de que estamos chegando em uma parte que foi habitada no edifício", explica Maculevicius.

Também continua o monitoramento de um dos edifícios do entorno, que foi atingido parcialmente pelas chamas e corre risco de colapso. Além dele, também estão interditados outros quatro imóveis vizinhos.

Botijões de gás encontrados pelos bombeiros nos escombros do prédio que ruiu - Rodrigo Borges Delfim/Folhapress

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