Mortes: Aguerrida, lutou em defesa da população de rua da Bahia
Na vida de militante, ganhou prêmios e foi à ONU
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Diziam que Maria Lúcia Santos Pereira era problemática. Ela não negava. Se não respeitavam seu povo, ia, sim, criar problemas, porque justiça não se faz calada.
Seu povo é o das ruas, onde ela morou por quase 20 anos. Teve casa, um dia, mas seus anjos da guarda, duas mulheres que a acolheram na falta da família, calharam de voltar para o céu.
Adolescente e sozinha, fez das praças e marquises de Salvador a sua morada.
Se descobria líder a cada vez que a polícia aparecia, tentava levar suas coisas, batia em seus colegas. Lá ia Lúcia, a problemática, dizer que não, senhor, faça o favor de respeitar porque, ainda que o poder público insista em esquecer, morador de rua é gente, sim.
No tempo em que viveu pelas calçadas, Lúcia usou drogas, bebeu. Quis mudar de rumo quando um ex-companheiro disse que ela não servia para nada. Não deixou barato.
Tratada, começou a trabalhar com programas de assistência à população desabrigada, a princípio em uma obra social da igreja católica. Foi se encontrando, vendo nascer em si a militância.
Lúcia foi longe. Participou do nascimento do Movimento Nacional da População de Rua e fundou a sua versão baiana, da qual era líder.
Implantou programas sociais, ganhou prêmios, encontrou presidentes e foi à ONU.
Fez o possível para que o povo da rua tivesse seus direitos reconhecidos. Seu sonho era que, um dia, o movimento que fundou fosse tão forte que não precisasse mais existir.
Lúcia morreu, no dia 25, aos 51, em Salvador. Suspeita-se que em decorrência de problemas renais antigos, negligenciados. É que, com tanta gente precisando dela, não via como cuidar de si mesma.
coluna.obituario@grupofolha.com.br
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