Descrição de chapéu Futebol Internacional

Por vingança, saudita fez clube egípcio milionário e desfalcou Brasileiro

Pyramids contratou brasileiros como Keno e Rodriguinho nos últimos meses

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login

Eduardo Geraque Bruno Rodrigues
São Paulo

O ambicioso projeto do investidor saudita Turki al-Sheik, 37, é conquistar a África por meio do futebol do Pyramids FC, clube que não existia até o ano passado.

Al-Sheik é o ministro dos Esportes e presidente do Comitê Olímpico da Arábia Saudita, mas desde o ano passado ele decidiu investir no Egito.

Segundo quem negocia atletas com o clube, ele repassa aos jogadores recém-contratados envelopes com grandes quantias de dinheiro para que se acomodem com conforto.

 
 

​Al-Sheik pode até ter ambições esportivas e comerciais no Egito, mas suas ações no país podem envolver também sentimento de vingança.

No ano passado, ele resolveu salvar da falência o tradicional Al Ahly, do Cairo, instituição de 111 anos. O dinheiro aportado no clube o transformou em presidente de honra da instituição. Mas de herói ele rapidamente passou a vilão.

Após ter convencido o técnico argentino Ramón Díaz a treinar o Al Ahly, ele mudou os planos na última hora e levou o técnico para o Ittihad Jeddah, da Árabia Saudita.

Uma de suas missões como ministro dos Esportes é fortalecer a liga saudita.

O ministro do Esporte da Arábia Saudita, Turki Al-Sheikh, que é o proprietário do Pyramids - Christian Hartmann - 13.jun.2018/REUTERS

Os protestos dos torcedores do Al Ahly se intensificaram. Dizendo estar desapontado, Turki abriu mão da presidência de honra do clube e foi atrás de outro negócio.

O Pyramids FC até o ano passado chamava-se Al Assiouty Sport e ficava na cidade de Beni Souef, a pouco mais de 100 km da capital, Cairo. Era um time criado em 2008 que jogou a segunda divisão local até 2014, quando subiu para a elite do futebol do Egito.

Sem torcida para pressionar, o saudita não teve problemas em transferir a equipe, que hoje joga em estádio com capacidade para 30 mil pessoas. Em curto prazo, o clube quer rivalizar com os dois principais times nacionais, que disputam a hegemonia local. O próprio Al Ahly e o Zamalek.

Para alcançar esse objetivo, o Pyramids investiu mais de 25 milhões de euros (cerca de R$ 107 milhões) só em atletas brasileiros, além de contratar um treinador do país.

Alberto Valentim, ex-Botafogo, viajou durante a Copa do Mundo para ser o técnico da equipe. Ele tem como auxiliar o também brasileiro Fernando Miranda, que trabalhou na mesma função com Valentim no Red Bull, em São Paulo. 

Keno, que estava no Palmeiras, e o ex-corintiano Rodriguinho foram anunciados nos últimos dois meses, assim como Ribamar, Carlos Eduardo e Arthur Caike, que deixaram Atlético-PR, Goiás e Chapecoense, respectivamente.

 
Os brasileiros Rodriguinho, Ribamar, Keno e Carlos Eduardo, do Pyramids - Pyramids FC/Facebook

A comissão técnica vai dirigir um elenco totalmente novo, que também conta com reforços da seleção do Egito, como Ali Gabr, contratado do Zamalek e que esteve na última Copa de 2018. O grupo terá Ricardo La Volpe, técnico do México na Copa de 2006, como supervisor esportivo. 

O discurso oficial do investidor não fala em vingança, mas em subir o nível do futebol do Egito promovendo jovens talentos. E vários deles estão no elenco.

Para vender a imagem de um projeto relacionado com a evolução do futebol egípcio, nomes de destaque foram trazidos para a diretoria.

O presidente do clube é Hossam Al-Badry, ex-dirigente do agora rival Al Ahly. O supervisor do time é o ex-jogador Ahmed Hassan. Além de passar pelos dois grandes times locais e atuar na Bélgica, é o jogador que mais vestiu a camisa da seleção do Egito.

O clube não mudou apenas de cidade. O Pyramids FC ganhou novo escudo, nova camisa e uma forte atuação nas redes sociais, com vídeos e montagens com as imagens dos reforços. A estratégia de marketing, porém, tem gerado gafes.

Para anunciar as contratações, o Pyramids usou o modelo de camisa do Racing, que tem o mesmo fornecedor esportivo. Mas se esqueceu de tirar das montagens o patrocinador da manga do clube argentino, o Banco Ciudad.

 

O alto investimento no Egito não é visto com bons olhos na Arábia Saudita, onde Turki Al-Sheikh tem a missão de fortalecer a liga e a seleção, além de melhorar a imagem dos clubes locais, que já foram vistos como maus pagadores.

Até o brasileiro Arthur Caike, ex-Chapecoense, entrou na confusão. Contratado pelo Pyramids em junho, ele se despediu do clube em menos de um mês para assinar com o Al Shabab, da Arábia Saudita. 

A reclamação dos sauditas de que o ministro só investia no Egito, pelo menos dessa vez, surtiu efeito.


BRASILEIROS QUE REFORÇARAM O PYRAMIDS

Alberto Valentim
Técnico, 43
Comandava o Botafogo no Campeonato Brasileiro até ser contratado pelo Pyramids para ser o treinador da equipe. Assinou com o clube durante a Copa do Mundo

Keno
Atacante, 28
Vinha se destacando pelo Palmeiras no primeiro semestre. Egípcios tentaram sua contratação ainda em janeiro, mas só fecharam com o atleta em junho

Ribamar
Atacante, 21
Revelado pelo Botafogo, estava no Atlético-PR, onde marcou cinco gols em 28 partidas. Entre os brasileiros do Pyramids, é o mais jovem, ao lado de Carlos Eduardo

Rodriguinho
Meio-campista, 30
Bicampeão brasileiro pelo Corinthians, Rodriguinho foi anunciado pelo novo clube após a Copa, no dia da derrota corintiana para o São Paulo, por 3 a 1, pelo Brasileiro

Carlos Eduardo
Atacante, 21
Jogador se destacou pelo Goiás em 2016, na Série B, e passou a ser cobiçado por clubes brasileiros, como São Paulo e Palmeiras. Em julho, oficializou sua ida ao Egito

Arthur Caike
Atacante, 26
Chegou em junho, mas já se transferiu ao Al Shabab, da Arábia Saudita. Negócio foi espécie de compensação ao futebol saudita por Al-Sheikh investir demais no Pyramids

Relacionadas