Descrição de chapéu

Padilha falha em manter a tensão na trama conhecida de '7 Dias em Entebbe'

Longa tem como toque de originalidade as cenas de dança, coreografadas por Ohad Naharin

Daniel Bruhl e Rosamund Pike como terroristas alemães em "7 Dias em Entebbe" - Liam Daniel/Divulgação

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LÚCIA MONTEIRO
São Paulo

7 dias em Entebbe (7 Days in Entebbe)

Avaliação: Regular
  • Quando: estreia nesta quinta (19)
  • Elenco: Daniel Brühl, Rosamund Pike, Eddie Marsan
  • Produção: Reino Unido/Estados Unidos, 12 anos
  • Direção: José Padilha

Vejas salas e horários de exibição

Não espere de "7 Dias em Entebbe" tensão dramática similar à obtida por José Padilha em "Ônibus 174" (2002). Apesar da proximidade temática, o diretor falha desta vez no ponto em que havia acertado anteriormente: manter o suspense em histórias de sequestro cujo desfecho é conhecido.

O longa narra a tomada, em 1976, de um voo de Tel Aviv a Paris por dois alemães e dois palestinos. Membros da Frente Popular para a Liberação da Palestina, eles desviam o avião para Uganda, fazendo de reféns passageiros e tripulação.

Com uma estrutura de montagem paralela, o filme se desdobra em duas frentes: o cativeiro, numa ala desativada do aeroporto de Entebbe, antiga capital ugandense; e as negociações, em Israel, entre Shimon Peres, então ministro da Defesa, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro.

Num polo como noutro, há irregularidades nos diálogos, ora quase banais, ora mais densos —incomoda o fato de serem em inglês, com transições arbitrárias para alemão, francês e árabe.

No cativeiro, os sequestradores alemães Brigitte (Rosamund Pike) e Böse (Daniel Brühl, muito bem) trocam dilemas éticos e políticos.

O que fazer caso as negociações falhem? Por que separar os israelenses dos demais passageiros? Como seria vista a execução de reféns judeus por alemães?

Não faltam provocações e posições contraditórias, terreno de predileção de Padilha. Um dos pontos altos está na conversa entre Böse e o engenheiro de voo (Dennis Menochet), que pergunta o que o outro faz na Alemanha.

"Sou editor de publicações revolucionárias", responde o sequestrador. "Um engenheiro vale por 50 revolucionários", retorque o francês, único capaz de consertar o encanamento do cativeiro.

Pouca atenção é dispensada aos palestinos do grupo, indicativo do ponto de vista ocidental do filme, construído a partir do livro "Thunderbolt Operation" (2015), do historiador britânico Saul David, e com a consultoria de Amir Ofer, antigo membro da Força de Defesa Israelense.

Em Israel, as posições contrastantes de Peres e Rabin explicitam a política de não negociação com terroristas, e suas falas soam como comentários a episódios subsequentes do conflito israelo-palestino. Vislumbram-se também impactos políticos futuros da morte, em Entebbe, de Jonathan Netanyahu, irmão de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro de Israel.

Se espera e monotonia são de fato características de um cativeiro, o filme falha em sustentar o suspense.

Ainda que sem função narrativa, as cenas de dança, coreografadas pelo israelense Ohad Naharin, contribuem felizmente para incrementar a tensão visual. É a porção de originalidade do longa, de modo geral convencional e sem surpresas.

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