Vejas salas e horários de exibição

 

“Pagliacci” são muitos filmes em um só. É esse o seu trunfo e sua fraqueza.

Em um momento inicial, o recém-lançado documentário se propõe a mostrar os preparativos para a montagem de “Pagliacci”, que estreou em março de 2017. 

Foi o primeiro espetáculo da companhia circense La Mínima depois da morte de um de seus fundadores, Domingos Montagner (1962-2016). 

Mas o filme também toma outros caminhos. Reconstitui momentos das duas décadas de existência da premiada trupe paulista, criada por Montagner e Fernando Sampaio em 1997. 

É ainda uma homenagem à profissão de palhaço, aquele que “perde a dignidade com dignidade”, nas palavras do ator e diretor argentino Fernando Cavarozzi.

Por fim, trata-se de um gesto de reverência ao talento de Montagner, com depoimentos de amigos. 
São, portanto, quatro camadas a sustentar o documentário, que alcança seus melhores momentos justamente quando elas se cruzam.

É o que acontece no encontro de Sampaio com seu mestre Roger Avanzi, o antológico palhaço Picolino. Nessas conversas, quando Sampaio aparece encantado feito um menino, a trajetória da companhia La Mínima se une à rica história do circo brasileiro.

Paródia do balé clássico com dois palhaços, o número “As Bailarinas” se tornou uma marca do grupo. O filme exibe a versão original e uma nova encenação, mesclando humor e nostalgia.

Por outro lado, o documentário perde boas oportunidades de reflexão ao trilhar tantas vias. Por que Roger Avanzi foi tão relevante para o circo contemporâneo?

Em que medida Montagner e Sampaio se superaram em “A Noite dos Palhaços Mudos”, que rendeu a ambos o prêmio Shell de melhor ator em 2008? 

Que não se espere, então, de “Pagliacci” mergulhos reveladores na história do circo ou mesmo da La Mínima. 

O grupo de diretores busca reproduzir o fascínio exercido pela arte circense. O encantamento se sobrepõe à razão.

Visto sob essa perspectiva, o documentário cumpre bem seu papel.