'Espero que as pessoas se sintam revigoradas com minhas músicas', diz Nick Cave

Australiano percorre o mundo em turnê e está em São Paulo para show no domingo (14)

Nick Cave conversa com a imprensa antes do seu show no México, no início de outrubro - Eduardo Verdugo/AP

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Thiago Ney
São Paulo

Nick Cave não tem a pretensão de mudar o mundo ou de chamar a atenção para problemas sociopolíticos. “Deixo isso para o Roger Waters”, brincou o australiano de 61 anos, que se apresenta neste domingo, no Espaço das Américas, em São Paulo, dentro da série de shows Popload Gig.

“Sei que o Brasil está vivendo uma situação desesperadora, parece que há muito ódio. Mas não acho que as minhas músicas sirvam para curar esse tipo de sentimento. São canções que talvez sejam transformadoras, e espero que as pessoas possam se sentir revigoradas de alguma forma. Não pretendo resolver os problemas do mundo, mas espero que possa ajudar com os problemas de cada um.”

Ao lado da banda The Bad Seeds, Nick Cave percorre o mundo com uma turnê iniciada depois do lançamento de “Skeleton Tree”, o 16º da carreira de Nick Cave & The Bad Seeds.

Na quarta-feira (10), Cave e banda se apresentaram em Buenos Aires em show de mais de duas horas de duração. Uma das faixas que ele cantou foi “Into My Arms”, do disco “The Boatman’s Call” (1997), canção emocionante composta logo depois que ele se separou de Viviane Carneiro, brasileira com que ficou casado por cerca de seis anos e com quem tem um filho de 27 anos. A música foi cantada por Cave no funeral de Michael Hutchence, vocalista do INXS morto em 1997.

“Músicas como ‘Into My Arms’ ganharam novo significado com o passar dos anos. Muito por causa da morte do meu filho, por causa da morte do meu filho (em 2015). Mudei a forma como canto essa música.”

Sobre o Brasil e particularmente São Paulo, em que viveu por três anos, Cave disse estar empolgado com o retorno (o último show na cidade foi há 25 anos) e com a oportunidade de voltar ao bar Mercearia, na Vila Madalena.

“Era uma época em que eu apenas sentava no bar, bebia algo e ficava quieto”, relembra. “Mas nunca me senti um turista em São Paulo, me via como um habitante da cidade. Não vim ao Brasil para absorver a cultura e ter ideias. Não fui para a Bahia, gravei umas percussões e fui embora. Vim porque me apaixonei por uma garota e acabei ficando por três anos. É difícil viver no Brasil e não ser impactado pela vida aqui.”

Cave sente-se otimista em relação ao mundo atual. “Acredito que as coisas estão melhorando. Sei que é estranho dizer isso hoje. Muitos jovens têm uma atitude cínica em relação ao que acontece no mundo. Isso me incomoda um pouco, porque as coisas melhoraram em relação ao que era no passado.”

Questionado sobre shows que o teriam influenciado de alguma maneira, Cave puxou da memória: “Há uns 15 anos vi um show da Nina Simone em Londres. Aquilo mudou a minha vida”.

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