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Insegurança masculina move filme 'Sequestro Relâmpago'

Longa com Marina Ruy Barbosa traz semelhanças com 'Um Céu de Estrelas', também de Tata Amaral

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Naief Haddad
São Paulo

São várias as semelhanças entre “Sequestro Relâmpago”, o novo filme de Tata Amaral, e “Um Céu de Estrelas” (1997), a estreia da diretora em longas de ficção.

Com algum distanciamento (já foram mais de duas décadas, afinal), é possível apontar “Um Céu” como um dos melhores filmes brasileiros dos anos 1990. 

Essa proximidade entre as duas produções é algo positivo à primeira vista: Tata está no terreno dramatúrgico que domina. Por outro lado, o parentesco evidencia fragilidades do longa mais recente da cineasta.

'Sequestro Relâmpago', protagonizado por Marina Ruy Barbosa - Divulgação

Em “Sequestro Relâmpago”, Isabel (Marina Ruy Barbosa) é feita refém ao se aproximar de seu carro depois de sair de um bar. A inexperiência dos sequestradores, Matheus (Sidney Santigo) e Japonês (Daniel Rocha), fica clara nas primeiras cenas. 

Passado o horário permitido para saques de valor mais alto no caixa eletrônico, eles decidem ficar com a moça ao longo da madrugada para retirar o dinheiro no dia seguinte.

Como em “Um Céu”, a nova trama se concentra no intervalo de algumas horas na vida dos protagonistas. Não são horas quaisquer. Trata-se de uma situação-limite, e daí o trânsito entre o suspense e o drama.

Outra característica em comum entre os dois filmes é a violência masculina, movida pela insegurança.

O filme de 1997 se passava quase todo em uma casa no bairro da Mooca. Em “Sequestro Relâmpago”, a diretora mantém os pés firmes em São Paulo, mas não se restringe a uma só região. Passa pelas ruas da Vila Madalena, pela marginal Pinheiros, pelos túneis do centro.

Tata Amaral e o diretor de fotografia, Carlos Zalasik, mostram uma cidade taciturna, mas não alcançam essa expressão nas sombras, como nos suspenses tradicionais. O mal-estar é amparado muitas vezes no excesso de luminosidade, solução com ótimo resultado.

A tensão, no entanto, jamais atinge o patamar visto em “Um Céu”, muito por conta dos diálogos. São artificiais em algumas cenas; em outras, caem em uma desnecessária reiteração do abismo social entre a jovem e os sequestradores. Quando a linguagem corporal se impõe, como nas reações de Matheus às ameaças de Isabel, o filme cresce.

Aliás, o Matheus de Sidney Santiago é quem melhor expressa a urgência e o desamparo.

“Sequestro Relâmpago” está acima da média da produção nacional recente, mas é frustrante quando se sabe do talento de Tata Amaral para ir além.

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