Investidores exigem resposta do Facebook por escândalo de dados
Administradora de investimentos escandinava proibiu seus fundos sustentáveis de investir na empresa
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O Facebook está sob pressão crescente dos investidores por sua conduta no escândalo de dados da Cambridge Analytica, e diversos acionistas colocaram em revisão suas participações acionárias na rede de mídia social; outros abriram processos contra a maior rede social do planeta.
Os investidores estão exigindo respostas do presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, que esperou até a quarta-feira para se pronunciar publicamente sobre a revelação de que uma empresa de análise de dados que trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump havia obtido dados sobre 50 milhões de usuários do Facebook de maneira indevida.
A administradora de investimentos escandinava Nordea Asset Management, que administra € 330 bilhões em capital, proibiu seus fundos sustentáveis de investir no Facebook, por conta do escândalo. "Dada a missão dos fundos de sustentabilidade, já não podemos aceitar o risco relacionado a isso", disse Sasja Beslik, que comanda a área de investimentos sustentáveis da companhia.
A administradora de ativos alemã Union Investment e diversos investidores de menor porte colocaram em revisão suas posições acionárias no Facebook.
A provedora de índices MSCI e a agência de classificação de crédito Sustainalytics anunciaram que reavaliariam as classificações ambientais, sociais e de governança que conferem ao Facebook, diante das revelações. Essas classificações são usadas frequentemente pelos investidores para decidir se devem comprar ou vender uma ação, o que significa que rebaixamento por qualquer das duas empresas poderia deflagrar nova onda de vendas das ações da companhia.
Um porta-voz do Facebook reiterou uma declaração de Paul Grewal, o vice-presidente jurídico assistente da empresa: "Temos o compromisso de aplicar vigorosamente as nossas normas para proteger a informação dos usuários. Tomaremos quaisquer medidas necessárias para garantir que isso aconteça", ele disse.
A Cambridge Analytica afirmou ter apagado os dados no momento em que percebeu que eles haviam sido recolhidos em violação das normas de uso do Facebook, e que nenhum desses dados foi usado a serviço da campanha de Trump. O Facebook afirmou ter descoberto o problema em 2015, e que está investigando agora se os dados foram de fato destruídos.
Mas os investidores vêm criticando fortemente a resposta do Facebook ao escândalo. Jonas Kron, vice-presidente sênior da Trillium Asset Management, que detém cerca de US$ 12 milhões em ações do Facebook, disse antes da declaração de Zuckerberg na noite de quarta-feira que o fato de a empresa estar enviando executivos de baixo escalão para depor em seu nome ao Congresso norte-americano era muito preocupante.
Beslik escreveu ao Facebook. "Pedimos esclarecimentos à companhia e esperamos uma reunião com eles em breve", ele disse. "Há muitas questões importantes que eles precisam responder, e não há muita informação disponível".
Natasha Lamb, sócia diretora da Arjuna Capital, uma companhia de impact investment [investimentos que buscam impactos sociais e ambientais benéficos, além de retornos financeiros], de Los Angeles, disse que "[as revelações são] fundamentalmente perturbadoras, e não só porque a empresa vem sendo tão recalcitrante em sua resposta. Existem riscos materiais nesse caso, riscos regulatórios, riscos de faturamento e riscos para a marca. Também existe risco para nossa democracia".
A Arjuna Capital apresentou uma proposta que será votada na assembleia geral de acionistas do Facebook este ano, solicitando regras melhores sobre interferência eleitoral, retórica do ódio e disseminação da violência no site.
A Trillium Asset Management também apresentou proposta para que o Facebook crie um comitê de avaliação de riscos em seu conselho.
Stephen Beer, vice-presidente de investimento do Conselho Financeiro Central Metodista, disse que a igreja metodista detinha ações do Facebook, por meio de cotas nos fundos em que investe. "Conversaremos com eles sobre as notícias recentes", ele disse.
A empresa de tecnologia também foi alvo de dois processos que buscam classificação como ações coletivas, nos Estados Unidos. Um deles, apresentado por Fan Yuan, investidor no Facebook, acusa a rede social de iludir os acionistas por não ter revelado o problema anteriormente.
O outro processo, de uma usuária do Facebook chamada Lauren Price, acusa a empresa de "completa desconsideração" para com as informações pessoais de seus usuários, e de não ter impedido a coleta "indevida" de dados. O processo inclui a Cambridge Analytica entre os acusados.
A Cambridge Analytica não respondeu de imediato a um pedido de comentários sobre o processo.
Os processos abertos na terça-feira agravam os problemas legais crescentes que a rede social está enfrentando nos Estados Unidos e Europa por conta do escândalo.
A Comissão Federal do Comércio (FTC) dos Estados Unidos está avaliando se o Facebook violou um acordo de 2011 quanto à proteção da privacidade de seus usuários, e os secretários estaduais da Justiça em Massachusetts e Nova York também iniciaram investigações.
Tradução de PAULO MIGLIACCI