Crise é novo reequilíbrio global, diz presidente mundial do Santander

Ana Botín disse ser importante que o governo brasileiro prossiga fazendo reformas

Ana Botín, presidente mundial do Santander, no mirante do Farol Santander, em São Paulo - Keiny Andrade - 28.mar.2018/Folhapress

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Raquel Landim
São Paulo

Ana Botín, presidente global do Santander, não está preocupada com o aumento da aversão ao risco global, que vem provocando forte desvalorização das moedas dos países emergentes, principalmente na América Latina.

“Sigo otimista. Isso não é 1982, nem 1994, nem 2001. O contexto é muito diferente”, afirmou a banqueira nesta quinta-feira (21), em um evento realizado pelo Santander para jornalistas em Londres.

Ela estava se referindo a turbulências que quase quebraram os países da América Latina, como a crise da dívida externa de 1982, a crise do México em 1994 e o efeito Tequila, que provocou o fim do câmbio fixo no Brasil, e a crise da Argentina em 2001.

Segundo a banqueira, o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos pode levar a uma queda de 0,5% no crescimento da América Latina neste ano, mas os países da região estão muito mais preparados, especialmente o Brasil, que possui robustas reservas internacionais.

“Apesar das aparências, o que está ocorrendo é um novo equilíbrio global. Os Estados Unidos voltaram a crescer e isso é bom para a América Latina e para o mundo”, disse Botín, ressaltando que o crescimento mundial é o maior dos últimos cinco anos.

Ela reconhece, no entanto, que há riscos: não só a alta de juros nos EUA, que provoca fuga de capitais nos países emergentes, mas também o fim dos programas de relaxamento monetário na Europa e a guerra comercial, com aumento de tarifas de importação entre diversos países, iniciada pelo presidente americano Donald Trump.

“Nós vimos que o G-7 não é mais um grupo de amigos”, disse Bodín, referindo-se à recusa de Trump em assinar o documento final do recente encontro entre os sete países mais ricos no mundo, que ocorreu no Canadá. “Se a guerra comercial se agravar, vai desacelerar o crescimento, mas, por enquanto, temos que olhar os números. O comércio global segue avançando”, completou.

Botín evitou fazer comentários sobre as eleições presidenciais que se aproximam no Brasil e no México. “Em política, eu não me meto. Trabalhamos com todos os governos e o importante é que seja uma transição democrática”, afirmou. Ele ressaltou apenas que é importante que o governo brasileiro prossiga fazendo as reformas, “aconteça o que acontecer nas eleições”.
 
O Brasil é o país mais importante para o resultado do Santander no mundo. No primeiro trimestre deste ano, respondeu por 27% do lucro do grupo espanhol, seguido pela matriz na Espanha com 18%, e pelo Reino Unido com 13%.

Esses percentuais, porém, podem mudar nos próximos meses, por causa da desvalorização do real, que prejudica os resultados da operação brasileira em euros. 

O banco espanhol, no entanto, deve seguir focado no mercado brasileiro. Logo no início de sua apresentação, a banqueira disse que mantém a ambição de “ultrapassar o Itaú” e se tornar o maior banco privado brasileiro. Hoje é o terceiro depois de Itaú e Bradesco.

Ana Botín chegou ao comando do Santander em setembro de 2014, após a morte do pai, Emilio Botín. É a primeira mulher a chefiar um grande banco europeu. Já ocupava o cargo de presidente-executivo do banco no Reino Unido, mas, mesmo assim, encontrou resistências ao ser nomeada.
 
Desde que assumiu a presidência global do Santander, a banqueira vem promovendo uma política de inclusão de mulheres no banco e no setor financeiro em geral. “Eu acredito na discriminação positiva. Se não fizermos algo, o processo é muito lento”.

A repórter viajou a convite do Santander

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