Tratado que tirou Rússia da Primeira Guerra Mundial completa 100 anos
Alemães obrigaram bolcheviques a perder um quarto do território do país para sair do conflito
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Quando a Alemanha enviou Vladimir Lênin, então no exílio na Suíça, de volta para a Rússia, em abril de 1917, o fez de caso pensado.
Ao possibilitar o retorno do líder comunista a um país já em convulsão desde a derrubada do czar, dois meses antes, os alemães pretendiam desestabilizar ainda mais o Império Russo, que lutava na Primeira Guerra Mundial (1914-18) ao lado dos britânicos e franceses —contra Alemanha, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Bulgária, as potências centrais.
A conta foi assinada em 3 de março de 1918, em Brest-Litovsk, cidade em território russo à época ocupada pelos alemães e que depois passaria para mãos polonesas e alemãs, até ser reconhecida como parte da república soviética de Belarus em 1945.
O Tratado de Brest-Litovsk marcou o fim da participação da Rússia na Primeira Guerra e, na prática, encerrou o conflito no Leste Europeu.
O preço, no entanto, foi elevado. Pelos termos do tratado, a Rússia abriu mão de um quarto do seu território europeu —cerca de 1,4 milhão de quilômetros quadrados.
Além de perder grande parte da indústria de ferro e reservas de carvão, tiveram de reconhecer a independência da Finlândia, Ucrânia, Polônia, Lituânia e partes da Armênia.
"Do ponto de vista de Lênin, esses sacrifícios fizeram sentido porque estabilizaram o governo dos bolcheviques em tempos de crise e ameaças", afirmou à Folha Robert Kindler, especialista em Leste Europeu da Universidade Humboldt de Berlim.
A guerra era extremamente impopular na Rússia, que enfrentava constantes crises de abastecimento. O despreparo do Exército levou a um número de baixas estimado em 1,7 milhão de soldados.
Tirar a Rússia do conflito sempre foi o desejo dos bolcheviques, que viam a guerra como uma disputa de potências imperialistas. Mas os termos do acordo não caíram bem para alguns dos líderes comunistas, entre eles Léon Trótski, chefe da delegação russa em Brest-Litovsk.
Ao voltar para Petrogrado (hoje São Petersburgo), manifestou-se contra a assinatura do pacto. Defendia uma posição de "sem guerra e sem paz".
Lênin, no entanto, se preocupava com a iminente humilhação que poderia ser imposta aos russos no campo de batalha, além, é claro, da estabilidade do recém-formado governo dos sovietes.
Ao Comitê Central do Partido Comunista ele defendeu a assinatura da "paz vergonhosa a fim de salvar a revolução mundial". "Sem Brest-Litovsk, Lênin poderia ter sido derrubado", avalia Kindler.
Para os alemães, o tratado também representou um alívio, permitindo o deslocamento de tropas para o front no oeste, onde franceses, britânicos e americanos avançavam com facilidade.
Depois da guerra, a Alemanha planejava transformar Estônia, Letônia e Lituânia em principados, enquanto Ucrânia e Polônia seriam convertidos em Estados vassalos.
Com a derrota, esses planos ruíram. Uma cláusula no Tratado de Versalhes, assinado em 1919, anulou Brest-Litovsk. Segundo historiadores, a dureza dos termos impostos pelos alemães aos russos um ano antes teria estimulado os Aliados a determinar as pesadas reparações a serem pagas pelos derrotados.