Israel bombardeia alvos iranianos na Síria em resposta a ataque de Teerã

Tel Aviv disparou 70 mísseis contra Damasco e Homs; 23 pessoas morreram na ação

Imagem divulgada por grupo ligado ao governo sírio que mostra um míssil israelense sendo interceptado pelo sistema antiaéreo em Damasco - Central War Media/AFP

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Daniela Kresch
Jerusalém, Beirute e Tel Aviv | AFP e Reuters

O governo israelense anunciou nesta quinta-feira (10) que bombardeou dezenas de alvos iranianos na Síria em represália a disparos de foguetes feitos por Teerã contra território controlado por Israel nas colinas de Golã.

Os ataques noturnos mataram pelo menos 23 combatentes (5 soldados sírios e 18 membros das forças aliadas ao regime), informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, ONG com sede no Reino Unido. Os mísseis atingiram a capital Damasco e Homs, no oeste do país, mas não há detalhes da situação nas duas cidades.

Segundo uma fonte do aparato de segurança israelense, é o maior ataque conduzido por Israel em território sírio em 44 anos, desde que os dois países assinaram um tratado de distensão em maio de 1974 após a Guerra do Yom Kippur (1973).

"Atacamos quase todas as infraestruturas iranianas na Síria e não devem esquecer o ditado de que 'se uma chuva cair sobre nós, uma tempestade cairá sobre eles'", afirmou o ministro israelense da Defesa, Avigdor Lieberman.

Para o porta-voz militar de Israel, tenente-coronel Jonathan Conricus, a ação foi uma mensagem clara de Israel a Teerã: desista de atacar a partir da Síria.

"É preciso olhar para isso sob a perspectiva de que os iranianos estão a 1.600 km da fronteira deles, se estabelecendo num país que não é o deles e espalhando capacidades militares hostis para ameaçar o Estado de Israel. Estamos nos defendendo na medida certa", afirmou à Folha.

Segundo Conricus, os alvos do bombardeio foram os locais de onde, horas antes, as forças iranianas tinham disparado cerca de 20 foguetes contra bases israelenses nas colinas de Golã --região anexada pelos israelenses em 1981 que é reivindicada por Damasco.

Para o tenente-coronel, é possível que haja mais confrontos entre Israel e Irã na fronteira síria. Os iranianos teriam que conter as ambições de Qasem Soleimani, comandante da Força Quds, braço armado da Guarda Revolucionária no exterior.

Soleimani estaria determinado a atacar Israel diretamente, e não por meio de terceiros, como a milícia libanesa Hizbullah e o grupo radical palestino Hamas.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, aliada do ditador Bashar al-Assad e de Teerã, o Exército israelense utilizou 28 aviões e disparou 70 mísseis contra posições iranianas na Síria. Moscou disse que metade dos foguetes foi abatida pelo sistema de defesa antiaéreo. Teerã não comentou o caso.

Tensão

O aumento da tensão entre Israel e Irã acontece após o presidente americano, Donald Trump, anunciar na terça (8) que seu país vai deixar o acordo nuclear com o Irã —a saída tem o apoio do governo israelense.

No mesmo dia, bases iranianas foram bombardeadas na Síria, deixando 15 militares mortos. Teerã atribuiu o ataque a Israel. 

Nesta quinta o governo Trump disse que apoia o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e voltou a criticar Teerã. Em nota, a Casa Branca afirmou que apoia o "direito de autodefesa de Israel".

O ataque em Golã foi "só mais uma demonstração de que o regime iraniano não é confiável e outro bom lembrete de que o presidente tomou a decisão certa de sair do acordo com o Irã", disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, à rede de TV Fox News.

Já Conricus, porta-voz militar de Israel, afirmou que seu país não quer uma escalada na violência na região, mas que vai responder aos ataques iranianos. 

Aliada do governo sírio, a Rússia pediu um diálogo entre os dois países. "Isso é uma tendência muito preocupante. Nós partimos do fato de que todos os problemas devem ser solucionados por meio do diálogo", afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, antes de dizer que Moscou aconselhou Israel a evitar "todas as ações que possam ser consideradas uma provocação". 

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu uma "desescalada", enquanto o governo da Alemanha disse que o ataque nas colinas de Golã foi uma grave provocação do Irã. "A escalada das últimas horas nos mostra que é realmente uma questão de guerra ou paz", advertiu a chanceler alemã, Angela Merkel.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, classificou como "extremamente preocupantes" os relatos dos ataques.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu em um comunicado "um cessar imediato dos atos hostis e de provocação" no Oriente Médio.

No texto, Guterres exigiu também ao "Conselho de Segurança se manter seguindo ativamente" o caso sírio para conduzir a "uma solução política" sob a carta da ONU.

Nesta quinta-feira, porém, nenhum dos 15 países-membros do Conselho pareciam dispostos a pedir uma reunião urgente sobre a escalada militar entre Israel e Irã. Consultados sobre o assunto, embaixadores de Rússia, França e Reino Unido responderam: "Não pelo momento".

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