Julgamento de El Chapo nos EUA começa com forte segurança de júri e testemunhas

Processo contra megatraficante deve durar 4 meses; ele pode pegar prisão perpétua

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Nova York | AFP, Reuters e AP

O temido chefe do tráfico mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, acusado de liderar o maior cartel de drogas do planeta e de enviar mais de 155 toneladas de cocaína aos Estados Unidos durante 25 anos, começa a ser julgado nesta segunda-feira (5) em Nova York sob medidas de segurança máxima.

Durante o processo, que se estenderá por mais de quatro meses, o júri deve decidir se El Chapo, de 61 anos, considerado o maior traficante do mundo depois da morte do colombiano Pablo Escobar, é culpado ou não de 11 crimes de tráfico e distribuição de drogas, posse de armas e lavagem de dinheiro.

Sua condenação pode acarretar prisão perpétua.

Foto de janeiro de 2017 mostra Joaquin Guzman, conhecido como El Chapo, escoltado por policiais em Ciudad Juarez para ser extraditado aos EUA - HO/Ministério do Interior do México/AFP

O processo começará com o juiz do Brooklyn Brian Cogan e os advogados de ambos os lados escolhendo, a portas fechadas, os 12 jurados que decidirão o destino de El Chapo. Seus nomes não serão revelados e eles serão escoltados por xerifes até o tribunal a cada dia.

Extraditado do México em janeiro de 2017, El Chapo é acusado de liderar, entre 1989 e 2014, o impiedoso cartel de Sinaloa, o qual fundou e tornou a "maior organização de tráfico de drogas do mundo", segundo a acusação.

Apesar de o caso focar no tráfico de drogas, os promotores também devem apresentar evidências de que o réu esteve envolvido em diversos assassinatos, incluindo de membros de cartéis rivais.

A Promotoria, que prepara o caso há anos, assegura que El Chapo enviou aos Estados Unidos ao menos 154.626 quilos de cocaína, além de várias toneladas de outras drogas, embolsando US$ 14 bilhões (cerca de R$ 51,8 bilhões).

El Chapo se declara inocente, mas o governo apresentou muitas evidências contra ele, tantas que a defesa diz não ter tempo de revisar: são mais de 300 mil páginas de documentos e ao menos 117 mil gravações de áudio, além de centenas de fotos e vídeos.

Sua extradição, há quase dois anos, e seu julgamento são um grande triunfo para o governo americano, que nunca conseguiu extraditar e julgar Escobar, ex-chefe do cartel de Medellín que morreu em uma operação policial em 1993.

Um dos advogado de El Chapo, Jeffrey Lichtman, disse à AFP que o julgamento terá "centenas de testemunhas".

Um grande segredo rodeia o caso. Ninguém sabe, nem mesmo os advogados de El Chapo, quem serão seus ex-sócios, funcionários e rivais que testemunharão contra ele. Muitos darão seu depoimento sob pseudônimos.

De acordo com documentos judiciais, os que já estão detidos foram colocados em celas especiais por questões de segurança, enquanto outros entraram para programas de proteção a testemunhas. 

Sua cooperação implica um risco de vida para eles e seus familiares, mas pode ajudá-los a reduzir sua pena.

A defesa afirma que as testemunhas são os verdadeiros vilões e que seu depoimento não deve ser considerado.

Os advogados de Guzman deram poucas pistas sobre os argumentos que vão usar. Um deles, Eduardo Balarezo, disse em um documento do processo que vai tentar provar que seu cliente agia sob a direção de outros líderes. 

Um dos defensores do traficante, Rob Heroy, estima que o processo custará "mais de US$ 50 milhões". "Apresenta-se como o julgamento mais caro da história dos Estados Unidos", afirma. 

Em sua cela de Manhattan, El Chapo fica sozinho 23 horas por dia. Os únicos que podem visitá-lo são seus três advogados e suas filhas gêmeas de sete anos, mas separados por um vidro.

Contudo, ele não pode ver sua esposa Emma Coronel, ex-rainha de beleza de um povoado do estado mexicano de Durango que se casou com ele aos 17 anos —agora tem 29—  e assistiu a quase todas as audiências, em geral com as gêmeas.

Preso pela primeira vez na Guatemala em 1993, El Chapo passou mais de sete anos em uma prisão mexicana antes de escapar pela primeira vez, em 2001.

Detido novamente no México em fevereiro de 2014, fugiu novamente 14 meses depois.

Guzman foi recapturado em janeiro de 2016, após uma visita do ator de Hollywood Sean Penn e de uma atriz mexicana, que queriam fazer um filme sobre sua vida, ajudar autoridades do México a descobrir seu destino.

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