Mundialmente conhecidos, forenses da Argentina param de atuar por corte de verba

Equipe que identifica corpos desde 1986 foi atingida por ajuste de orçamento a metas do FMI

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Sylvia Colombo
Buenos Aires

Uma das principais entidades dedicadas a restaurar identidades a partir de restos mortais, na Argentina e no mundo, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) anunciou o encerramento de suas atividades no país devido ao corte de verbas destinadas por lei à entidade, promovido pelo governo.

A redução dos aportes do Estado a entidades de direitos humanos é parte do ajuste do Orçamento para 2019, aprovado pelo Congresso, e que visa adaptar o país às metas impostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Membros da EAFF trabalham em fossa clandestina encontrada em um centro de detenção durante a ditadura militar na província de Tucuman - Equipo Argentino de Antroplogia Forense-14.dez.2011/AFP

"É a primeira vez que deixaremos de trabalhar em 32 anos. Eu gostaria de me encontrar com o presidente Mauricio Macri para explicar a ele a importância de nosso trabalho", disse o presidente da entidade sem fins lucrativos, Luís Fondebrier.

Os Forenses, como são chamados, começaram a atuar em 1986, na tentativa de identificar ossadas e outros restos mortais de pessoas desaparecidas durante a ditadura militar (1976-1983).

Por essa época, começavam a abundar nas margens do Rio da Prata restos mortais de pessoas que tinham sido atirados em "voos da morte" pela repressão.

No trabalho com esses cadáveres decompostos, nas escavações e buscas em fossas comuns, os Forenses desenvolveram técnicas novas de identificação de ossadas e viraram uma referência internacional.

Seu mais recente trabalho de grande visibilidade foi a identificação de 106 restos de soldados argentinos que se encontram enterrados no cemitério de Darwin, nas ilhas Malvinas (Falklands), e que, por conta disso, puderam receber lápides com seus nomes.

Os Forenses também trabalham há muito tempo fora da Argentina. Foram chamados, entre outras coisas, para ajudar a identificar restos mortais de Che Guevara na Bolívia, de vítimas de guerras como as dos Bálcãs e dos 43 estudantes desaparecidos em Ayotzinapa, no México.

Recentemente, vêm ajudando a identificar corpos de imigrantes centro-americanos encontrados em sua tentativa de chegar à fronteira do México com os Estados Unidos. Também atuam no Iraque, na Angola e na África do Sul.

Organismos internacionais garantiram ao EAAF que darão aportes para que não interrompa sua atuação fora do país. Os trabalhos de identificação de restos humanos na Argentina, porém, estão suspensos sem data para retornar.

O Secretário nacional de Direitos Humanos, Claudio Avruj, disse que a prioridade agora é realizar pagamentos atrasados, como os de identificação dos corpos nas Malvinas, e voltar a discutir um acordo para que um aporte anual seja reintegrado ao Orçamento.

Porém, não definiu data nem respondeu às inquietudes dos forenses, que pedem não apenas a garantia dessa verba anual como pagamentos de funcionários que estão atrasados.

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