Descrição de chapéu

Roteiro do absurdo

Crédito: Matthias Oesterle/Xinhua Manifestantes pedem eleições regionais na Catalunha

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Já faz algum tempo que a imprensa espanhola se rendeu à tentadora associação entre a situação política da Catalunha e o surrealismo, corrente artística que floresceu naquela região com Dalí, Miró e outros. A possibilidade de Carles Puigdemont voltar ao governo local só reforça essa sensação de desafio à lógica.

Senão, lembremos: o ex-chefe da administração catalã foi o mentor do malfadado plebiscito independentista de outubro —convocado ilegalmente, à revelia do poder central de Madri. Começava aí uma querela que só traria prejuízos aos catalães, incluindo a maioria contrária à separação e que se recusou a participar da consulta.

A despeito dos alertas das autoridades nacionais e das sentenças do Tribunal Constitucional, Puigdemont promoveu uma declaração unilateral de independência.

O gesto desatinado levou à dissolução de seu governo pelo premiê espanhol, Mariano Rajoy, e a novas eleições regionais. Nestas, partidos identificados com a causa secessionista, à esquerda e à direita, conseguiram uma apertada maioria no Parlamento.

Natural, assim, que se retome o debate sobre que nível de autogestão deve usufruir a Catalunha, a comunidade autônoma mais próspera da Espanha. Difícil assimilar, entretanto, a articulação entre as legendas separatistas para que Puigdemont seja reconduzido ao cargo do qual foi destituído por via legítima.

A começar pelos próprios obstáculos de natureza prática. Afinal, nem em território espanhol o ex-líder catalão se encontra, mas sim em Bruxelas.
A estada na capital belga teria como motivo denunciar à União Europeia o suposto autoritarismo da intervenção de Madri depois de declarada a soberania da região. Depois, serviu como forma de escapar da Justiça espanhola, que emitiu contra Puigdemont ordem de prisão por sublevação e sedição.

Agora, o bloco independentista debate se ele poderia assumir à distância, discursando por videoconferência —ou se delegaria a tarefa a algum aliado.

Mesmo que não se levem em conta os questionamentos sobre a legalidade de tal ação, afigura-se inviável qualquer negociação séria entre o gabinete de Rajoy e os catalães, caso estes tenham um representante sob essas condições.

Em hipotético retorno, Puigdemont provavelmente seria demovido por sua coalizão de seguir o mesmo caminho que levou a Catalunha a uma grave instabilidade. Por via das dúvidas, melhor que esse filme não rode outra vez.

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