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Palavras trocadas

Cada época tem seus padrões de sensibilidade, e limites do aceitável se alteram ao longo da história

O cantor Criolo, que recriou e suavizou obra politicamente incorreta - Greg Salibian/Folhapress

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Os movimentos politicamente corretos —que irromperam em diversos países, a começar pelos Estados Unidos, a partir do final da década de 1980— têm provocado uma série de controvérsias em torno dos limites à liberdade de expressão e dos direitos de pessoas ou coletividades a não serem estigmatizadas por meio da linguagem.

Determinadas expressões e manifestações que em outros tempos eram usadas publicamente para se referir a certos grupos sociais, como negros, mulheres e homossexuais, são agora objeto de contestação pelo caráter discriminatório e ofensivo que encerram.

Cada época tem seus padrões de sensibilidade, e os limites do aceitável se alteram ao longo da história. Hoje, procuram-se impor novas normas, nem sempre de maneira razoável, com o objetivo de fazer com que também a linguagem, em sintonia com a sociedade, se torne mais inclusiva.

Não surpreende, portanto, que alguns artistas, como mostrou reportagem desta Folha, venham substituindo algumas formulações que hoje possam soar inadequadas na reedição de suas obras.

O compositor Criolo, por exemplo, decidiu abolir o termo “traveco” da letra de uma de suas canções, ao relançá-la recentemente. 

Outros casos ilustram a mesma preocupação: traduções de seriados dos anos 1970 evitam piadas ou palavras tidas como potencialmente ofensivas, e uma nova versão do popular “Os Trapalhões” abandona tiradas jocosas envolvendo negros, gays e nordestinos.

Note-se que essas correções de rumo parecem incentivadas também por um zelo de mercado. Produtores e exibidores não querem correr o risco de ataque e eventuais boicotes a seus produtos.

Em momentos como o atual, de mudanças de costumes, é difícil evitar que exageros entrem em cena —um efeito colateral sem dúvida problemático. No afã de lutar por suas causas e defender seus representados, ativistas não raro assumem papel inquisidor.

Tentativas de interditar manifestações de adversários ideológicos, de fomentar polarizações e de eliminar as possibilidades de diálogo tornaram-se frequentes e agressivas em diversos países, em meio ao que se convencionou chamar de “guerra cultural”.

O tempo, espera-se, vai contribuir para que as tensões em curso deem lugar a um ponto de equilíbrio.

editoriais@grupofolha.com.br

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