Descrição de chapéu

Bolsonaro e os vizinhos

Entre apoio e repúdio, postura na América do Sul inspira cuidados

O ditador venezuelano Nicolás Maduro - Bois Vergara/Xinhua

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A crescente possibilidade de Jair ​Bolsonaro (PSL) chegar ao Palácio do Planalto, reforçada por seu surpreendente desempenho no primeiro turno, já suscitou reações de governantes da América do Sul. Natural que o tom das declarações, crítico ou elogioso, tenha variado de acordo com a inclinação política de cada um.

Partiu de um direitista a mais eloquente manifestação a favor do candidato. Para o presidente chileno, Sebastián Piñera, a plataforma de Bolsonaro "aponta para uma boa direção", em referência a propostas de redução do déficit orçamentário e do tamanho do Estado.

Piñera circunscreveu seu apoio, porém, à seara econômica. Disse, mais tarde, discordar dos comentários homofóbicos e da "linguagem agressiva contra as mulheres".

No outro polo, autoridades do Uruguai, onde uma coalizão de esquerda está há 13 anos no poder, investiram contra o líder das pesquisas no Brasil. A vice-presidente, Lucía Topolansky, classificou a ascensão do postulante de direita no Brasil como um "quase retorno ao [regime] ditatorial".

Ressalte-se, porém, que a opinião não foi compartilhada por seu superior, Tabaré Vázquez. Este pediu, segundo a imprensa local, comedimento ao gabinete sobre a disputa eleitoral brasileira.

Reside, aí, um compreensível pragmatismo, posto que não traria benefícios a qualquer vizinho se indispor com o eventual governante da maior economia regional.

A cautela também se mostra recomendável porque, ao que tudo indica, um governo Bolsonaro não elencaria a América Latina como prioridade na política externa. O candidato tem demonstrado intenção de buscar novas parcerias; mais de uma vez citou Japão, Coreia do Sul e Israel como exemplos.

Gera certa apreensão, ainda, a maneira como o capitão reformado pretende lidar com a crise na Venezuela. Seu vice, general Hamilton Mourão, declarou que a próxima "força de paz" das Forças Armadas seria na nação caribenha, sem explicar em que circunstâncias se realizaria tal operação.

O flerte com a intervenção põe o Brasil em rumo oposto ao do subcontinente. Mesmo os governos críticos ao ditador Nicolás Maduro a descartam —entre outros motivos, pelo risco de agravar o caos institucional e de alimentar o discurso chavista de que sua própria ruína deriva de articulação internacional para desestabilizar o regime.

Também quanto à diplomacia é preciso que Bolsonaro deixe de lado a linguagem panfletária, mais conveniente a um oposicionista que a um líder continental.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​

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