Campeão mundial
Eleições na Venezuela não representam sinal inequívoco de vitalidade democrática
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Em que pesem os índices de participação historicamente baixos para eleições de vereadores na Venezuela, o amplo desinteresse da população pelo pleito municipal realizado no domingo (9) reflete, em boa medida, um estado de desesperança diante da atual catástrofe socioeconômica, agravada pelo ditador Nicolás Maduro.
A previsibilidade das urnas justifica tal desânimo. Mais uma vez, os principais partidos de oposição se viram impedidos de registrar candidatos por decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), há muito a serviço do chavismo. Assim, o governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) obteve quase todos os assentos em jogo.
Desde que Hugo Chávez (1954-2013) elegeu-se pela primeira vez, há 20 anos, o regime por ele arquitetado especializou-se no expediente de auferir legitimidade pela convocação do povo ao voto.
Em entrevista coletiva a jornalistas nacionais e estrangeiros, Maduro jactou-se de que os chavistas venceram 23 das 25 disputas de 1998 para cá —incluída a última dos vereadores: “Somos campeões mundiais em votos”.
Trata-se, sem dúvida, de desempenho invejável em termos numéricos, mas nem de longe o fato de ter havido tantas eleições —muito menos a dominância do governismo nelas— representa sinal inequívoco de vitalidade democrática.
Aliás, convém recordar a mais emblemática das duas únicas derrotas do chavismo e o que ocorreu depois dela. Em 2015, a oposição tomou o controle da Assembleia Nacional, que servia até então de Poder carimbador de todas as medidas do Executivo.
Pode-se dizer que Maduro e seu círculo aprenderam com o insucesso, porém da pior forma. Para não correrem mais o risco de perder, manietaram os adversários expressivos, aparelharam o órgão eleitoral e recorreram às urnas para criar uma fraudulenta Assembleia Constituinte, 100% oficialista.
Esta, por sua vez, funciona há mais de um ano, mas pouco se sabe sobre como estão os trabalhos de discussão e redação de uma nova Carta —em tese, razão de sua existência. Na verdade, após declarar ilegítimo o Congresso de maioria antichavista, tornou-se um Legislativo paralelo, em flagrante violação das instituições.
Em 10 de janeiro, Maduro inicia mais um mandato de seis anos. Disse não ter decidido se buscará outra reeleição. Caso o faça e vença, não será menos que uma façanha.
Não por eventuais méritos de estadista, claro, mas por conseguir se manter no poder em um país há cinco anos em recessão e com inflação que ultrapassou 1.000.000% em 12 meses. Só um “campeão mundial” em votos, seja lá por quais meios, seria capaz disso.