Marcelo Odebrecht derruba executivo que seria presidente do conselho do grupo

Newton de Souza foi alvo de novas acusações feitas após herdeiro da empresa deixar a prisão

Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados Você atingiu o limite de
por mês.

Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login

Mario Cesar Carvalho
São Paulo

Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva o seu sobrenome, conseguiu derrubar o executivo Newton de Souza, que deveria ocupar a presidência do conselho de administração a partir deste mês. O conselho é a instância de decisão mais importante da companhia.

Souza, que presidiu a Odebrecht e estava no conselho, será afastado de vez do grupo.

A informação foi revelada pela revista Veja e confirmada pela Folha

Emílio Odebrecht, que preside o conselho, indicou Ruy Sampaio para a presidência do conselho. Sampaio é diretor há nove anos da Kieppe, que controla a Odbinv, que detém 100% do capital da Odebrecht S/A.

Souza era um dos alvos principais de Marcelo. Após deixar a prisão, no final do ano passado, o herdeiro reuniu uma série de emails que mostravam que Souza conhecia irregularidades praticadas pela empresa, mas não se tornara delator. 

É o segundo desafeto de Marcelo a deixar o grupo: no começo desta semana o advogado Adriano Maia, diretor jurídico da Odebrecht Engenharia e Construções, saiu para um período sabático.

Maia negociou o acordo de delação da empresa, mas era citado por Marcelo como um dos conhecedores de negócios ilícitos da empresa, como o pagamento de propina para aprovar uma série de medidas provisórias chamadas “Refis da Crise”, um projeto de refinanciamento de dívidas que beneficiava grandes exportadores. Newton também estava implicado nesse caso, de acordo com Marcelo.

Segundo o herdeiro, essas medidas foram negociadas com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com Antonio Palocci, que chefiara a Casa Civil no governo Lula.

A Odebrecht pagou R$ 50 milhões para que o pacote fosse editado em 2009, ainda segundo Marcelo. Ele disse que o dinheiro seria usado na campanha de Dilma Rousseff para a Presidência em 2010. Dilma e Mantega negam que tenha recebido suborno.

A Folha revelou em 17 de maio que Marcelo prestou depoimentos a procuradores nos quais dizia que integrantes da cúpula da empresa sabiam do pagamento de propina, chamada por ele eufemisticamente de “contrapartida”, mas não estavam entre os 78 delatores do grupo.

Ele citava quatro executivos nos depoimentos: Newton de Souza, Adriano Maia, Maurício Ferro, vice-presidente jurídico do grupo, e Marcelo Lyra, vice-presidente de comunicação. Todos negavam conhecer as irregularidades.

Em março, Marcelo enviou um email a executivos da Odebrecht em que dizia que a companhia não pode mais tolerar que “pessoas que optaram por omitir seus erros continuem na organização”.

Era um recado aos que tentaram fugir da delação para continuar na cúpula da empresa. Marcelo considerava injusto que eles não tivessem sido punidos porque ficara dois anos e meio preso em Curitiba e vai ficar o mesmo período em prisão domiciliar.

Ferro e Lyra devem ser os próximos a deixar o grupo, segundo a Folha apurou.

As declarações de Marcelo sobre os executivos que supostamente conheciam a prática de suborno e continuavam na cúpula colocam em xeque as declarações de que uma nova Odebrecht nascera após os acordos de delação e leniência, assinados em 2016.

A presença desses profissionais também incomodava os monitores brasileiros e americanos que acompanham as promessas da Odebrecht de se tornar uma empresa ética. A saída de Newton de Souza só será oficializada na próxima assembleia de acionistas, ainda sem data marcada.

Nessa reunião Emílio Odebrecht, que preside o conselho de administração, vai anunciar a sua saída e a entrada de quatro conselheiros independentes. A família Odebrecht não terá mais representantes no conselho. Sergio Fogel, homem de confiança de Emílio, continua no conselho.

Entre os conselheiros independentes haverá uma mulher, a engenheira Ieda Gomes Yell, que presidiu a Comgás.

A Odebrecht esperou a renegociação de dívidas com bancos para confirmar a saída de Souza. Em 24 de maio, o grupo anunciou que obteve empréstimos de R$ 1,7 bilhão. O grupo precisava pagar R$ 500 milhões no dia seguinte.

Relacionadas