Haddad muda discurso para incorporar imagem de Lula na Paraíba
Na ausência do ex-presidente, eleitores ainda se dizem indecisos ou não sabem o nome do vice
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Após três dias de seu giro pelo Nordeste, Fernando Haddad já adaptou seu discurso, habitualmente empolado, para tentar incorporar a imagem —e a popularidade— do ex-presidente Lula diante do eleitorado mais cativo do PT.
Em discurso para militantes do partido nesta quinta-feira (23), em João Pessoa (PB), Haddad deixou de lado expressões como “spread bancário”, que usa para explicar sua proposta de taxar os bancos, e ainda contou causos e fez metáforas futebolísticas, como é praxe do próprio Lula.
“Quando você sai pra rua, vai dando explicação e as pessoas vão te cobrando simplificações. Se você fala ‘spread’, ninguém vai saber o que é”, disse Haddad em relação à diferença das taxas de juros que o banco paga e cobra por empréstimos.
Aos petistas que preenchiam um dos salões do Clube Cabo Branco, na capital paraibana, o candidato a vice na chapa do PT ao Planalto então simplificou:
“Precisamos dar um choque nos bancos. Quanto mais juros cobrar, mais imposto vai pagar”, declarou.
O PT insiste no discurso de que Lula é candidato mas deve substituí-lo por Haddad na cabeça de chapa quando o ex-presidente for declarado inelegível, o que pode acontecer no início de setembro.
Segundo o Datafolha, a capacidade de transferência de votos de Lula, que lidera a pesquisa com 39%, é grande —31% dizem que votariam em um nome indicado pelo petista e 18% afirmam que talvez o fariam.
Haddad, porém, ainda é pouco beneficiado ao herdar parte desses eleitores —somente 9% votam nele na ausência de Lula.
Apesar de a campanha petista observar os dados com lupa, publicamente o ex-prefeito de São Paulo diz que esses números ainda são baixos porque ele não é candidato.
“Nosso desejo sincero é que Lula seja candidato. Não estamos fazendo cálculo eleitoral. A resposta cabe ao TSE”, declarou.
Haddad afirma ainda que “se continuarem fazendo injustiça com Lula, ele vai chegar a 80%”. “Cassar o Lula é cassar o voto de metade da população brasileira”.
Aliados, por sua vez, são menos comedidos ao falar da substituição de Lula.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), por exemplo, afirmou nesta quinta que Haddad será “o que Lula e o povo brasileiro quiserem que ele seja”.
“No dia 7 de outubro, quando abrirem as urnas, vai dar Lula. E, se não deixarem [Lula ser candidato], vai dar quem ele escolher”.
PELAS RUAS
Os militantes do PT seguiram Haddad por uma caminhada no centro de João Pessoa (PB).
Acompanhado por Coutinho e pelo candidato do PSB ao comando do estado, João Azevedo (PSB), Haddad acenava, em cima de uma caminhonete, aos apoiadores que acompanhavam o ato do chão.
O jingle que predominava era o de Azevedo, mas a apresentadora repetia, nos intervalos da música: “Nosso próximo presidente é Haddad”.
O afilhado político de Lula ainda é pouco conhecido no Nordeste, principal reduto eleitoral do PT, e investiu em um périplo pela região nesta semana para tentar colar sua imagem à do ex-presidente.
Os eleitores de Lula, porém, ainda insistem que o líder petista será candidato e, quando questionados, a maioria diz não conhecer Haddad ou não saber em quem votar caso o ex-presidente seja declarado inelegível.
O vendedor Josivaldo dos Santos, 45, por exemplo, trabalha perto de onde passou a caminhada, mas disse que não sabia que ali estaria, nesta quinta, o vice de Lula.
O paraibano afirmou querer votar no ex-presidente, mas, caso a Justiça Eleitoral o impeça de concorrer, apoia quem Lula indicar.
“Não sei o nome, mas se Lula mandar, eu voto”, afirmou ao ser informado que o sucessor petista estaria ali em instantes.
O ex-prefeito, porém, segue na defesa pública da candidatura do ex-presidente e, em discurso após a caminhada, disse que cassar Lula é “cassar o voto de 50 milhões de brasileiros” que querem votar nele.
Após passar por Salvador, ainda um pouco assustado com a multidão que o acompanhou em uma caminhada ao lado do governador e candidato à reeleição, Rui Costa, Haddad parecia mais à vontade nesta quinta na Paraíba.
Nesta semana, o petista esteve também em Aracaju (SE) e Campina Grande (PB), e segue para Mossoró (RN) e São Luís (MA).