Acusado de desviar dinheiro de dízimo, bispo renuncia ao cargo em Goiás

Papa Francisco manteve arcebispo de Uberaba como administrador apostólico da diocese

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Cleomar Almeida
São Paulo

Acusado de desviar R$ 2 milhões de dízimos e ofertas de fiéis, o bispo dom José Ronaldo Ribeiro, 61, renunciou ao cargo na diocese de Formosa, a 280 quilômetros de Goiânia. A decisão foi divulgada no site do Vaticano e reproduzida, nesta quarta-feira (12), pela página da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) na internet.

Bispo dom José Ronaldo Ribeiro, de Formosa, que entregou carta de renúncia - André Coelho - 24.abr.18/Folhapress

O papa Francisco aceitou a carta de renúncia e manteve como administrador apostólico da diocese o arcebispo metropolitano de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto, que havia sido nomeado para o posto no dia 21 de março. A nomeação ocorreu logo após o Ministério Público de Goiás deflagrar a Operação Caifás, que estima o valor do desvio entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões.

No total, 11 pessoas se tornaram réus por associação criminosa, conforme consta do site do Tribunal de Justiça de Goiás. Assim como o bispo, foram presos, na época, o vigário-geral da diocese, monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, o juiz eclesiástico Thiago Wenceslau, três padres e dois supostos laranjas. Além deles, também foram denunciados outro padre, o contador e o advogado da diocese.

Na última segunda-feira (10), o juiz Fernando Oliveira Samuel, da 2ª vara criminal de Formosa, realizou audiência de instrução e ouviu duas testemunhas de defesa. Outras testemunhas ainda devem ser ouvidas em audiências marcadas para esta quinta-feira (13) e para o dia 11 de outubro. Só depois será agendado o julgamento.

A operação apreendeu, na época, centenas de cabeça de gado, duas caminhonetes, relógios, joias e quase R$ 160 mil em espécie, parte deles escondida em um fundo falso de um armário. Segundo os investigadores, os bens apreendidos integravam o patrimônio paralelo fruto do esquema de corrupção na igreja.

A reportagem ligou nesta quarta para o advogado do bispo, Lucas Rivas, mas ele não atendeu ao telefonema. Em entrevista à Folha publicada em abril, depois de ficar 30 dias preso,  dom José negou a acusação de chefiar desvio de dinheiro na cúria de Formosa e a existência do esquema de corrupção. “Não existiu. De jeito nenhum”, afirmou, na época.

O bispo também disse, na ocasião, que as acusações partiram de um grupo de padres que discorda do seu estilo de atuação, baseado, segundo afirmou, na comunhão com o magistério da igreja. Ordenado como padre há 33 anos, ele atuou como bispo durante 11 anos.

O advogado Bruno Opa, que defende quatro religiosos e os dois empresários apontados como supostos laranjas, reafirmou que vai provar a inocência de todos eles. “Tenho certeza.” A reportagem não conseguiu localizar o contato da defesa dos outros réus.

O Vaticano informou que um julgamento eclesiástico também está em andamento. Para o processo interno, a igreja usa as provas da operação, que, segundo a promotoria goiana, foi batizada com o nome de um sumo sacerdote quando Jesus foi condenado a morrer na cruz.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, quem foi preso foi dom José Ronaldo Ribeiro, e não dom Paulo Mendes Peixoto.

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