Descrição de chapéu Eleições 2018

Collor reedita papel de pai dos pés-descalços e descamisados

Ex-presidente concorre em Alagoas contra o atual governador, Renan Filho, do MDB

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João Pedro Pitombo
Maceió e Arapiraca (AL)

A chuva não dá trégua, mas Fernando Collor de Mello (PTC) abre os braços de forma expansiva, acena e sorri enquanto caminha por ruas enlameadas na periferia de Arapiraca, cidade do agreste alagoano.

No chão de uma praça, ele discursa para um público minguado. Mas empolga quem o acompanha quando dispara contra o governador Renan Filho (MDB), a quem chama de prepotente, metido a besta e menino de calças curtas.

Presidente entre 1990 e 1992, quando deixou o cargo após sofrer impeachment, Collor disputa o governo de Alagoas pela terceira vez ancorado numa campanha de perfil populista.

Numa reedição do "pai dos pés-descalços e descamisados", vende-se como um candidato sensível às demandas população mais pobre --sua principal proposta é a criação de uma espécie de Bolsa Família estadual focado em mulheres de baixa renda.

"Queremos fazer um governo com o povo para o povo, sobretudo o povo mais humilde que vem sendo perseguido e vitimado pelas injustiças praticadas pelo Palácio do governo", disse Collor em Arapiraca na noite de sexta (31).

Fernando Collor de Mello, candidato ao governo de Alagoas, inaugurando comitê em Arapiraca. - Divulgação /Facebook

Três décadas depois de fazer fama como "caçador de marajás", Collor abriu guerra contra o estado fiscalizador "que persegue comerciantes e fecha pequenos negócios com sua sanha arrecadatória". Sua promessa-símbolo é liberar as motos de até 50 cilindradas, as populares cinquentinhas, de taxas de licenciamento.

Seu objetivo é fazer um contraponto ao caráter tecnocrata da gestão Renan Filho, que tem no ajuste fiscal o seu principal cartão de visitas.

Em quatro anos de mandato, ele conseguiu reduzir dívida do estado de 160% para 90% da receita corrente líquida, ampliando a capacidade de investimento do governo. Ao mesmo tempo, sofreu críticas ao reduzir o alcance de programas sociais.

Disputando a reeleição amparado por uma coligação de 19 partidos, a maior do país, Renan Filho diz confiar em sua vitória e desdenha da estratégia do adversário.

"[Collor] tem um discurso fiscalmente irresponsável que não convence o cidadão nos dias de hoje. O discurso dele envelheceu", afirma o governador, que disputa a reeleição ao lado do pai, o senador Renan Calheiros (MDB).

Para manter-se à frente do governo, Renan Filho tem como trunfo o apoio do PT numa região onde o ex-presidente Lula tem alta popularidade. 

No último sábado (1), o governador recebeu Fernando Haddad em Maceió e prometeu apoio ao petista: "A tendência é de apoio ao Haddad. Não vamos discutir apoiar outro nome", disse o governador à Folha no dia anterior. 

O emedebista pôs na rua uma campanha com estrutura profissional e que aposta numa estratégia de "terra ocupada". Em caminhadas e carreatas, é acompanhado por um batalhão de cabos eleitorais.

Na quinta (30), num ato no bairro Santa Lúcia, periferia de Maceió, os cabos eleitorais dividiam-se em diaristas e mensalistas. Os diaristas, moradores do próprio bairro, formaram fila para receber R$ 20 por ter segurando bandeiras durante o ato.

Os mensalistas recebem um salário mínimo, dividido em duas parcelas, para trabalhar durante toda a campanha. 

Os moradores ficaram praticamente alheios à campanha. Poucos arriscavam-se a sair de casa. Alguns foram até o governador para fazer cobranças, caso do ambulante Cícero dos Santos, que pediu o asfaltamento da sua rua.

A entrada de Collor na disputa foi estratégia de sobrevivência política: caso seja reeleito, Renan Filho é virtual candidato ao Senado em 2022, ano em que Collor disputaria a sua reeleição. Com um olhar no futuro, o ex-presidente antecipou uma separação que fatalmente aconteceria mais à frente.

Do outro lado, os Calheiros acusam o hoje adversário de colocar nas ruas um projeto pessoal de poder: "Nada me surpreende no Collor. Ele nunca se guia pelos valores da coerência".

As palavras são do senador Renan Calheiros, o mesmo que esteve com Dilma Rousseff (PT) e depois votou pelo seu impeachment, apoiou Michel Temer e foi o primeiro a abandonar o presidente.

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