Biópsia líquida e mapa genético adiantam detecção do câncer

Objetivo é que, a partir do resultado do exame, o médico consiga prescrever drogas específicas

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Ocimara Balmant
São Paulo

A coleta de sangue é como de qualquer exame, mas a análise é sofisticada: capaz de identificar fragmentos de DNA de tumores na corrente sanguínea antes que eles se tornem visíveis nos testes convencionais, numa fase em que podem ser bloqueados.

Menos invasiva e mais sofisticada que as ferramentas atuais de diagnóstico, a biópsia líquida é a grande aposta na detecção precoce do câncer

“Tivemos a primeira leva de estudos sobre técnica publicada recentemente na revista Science. É uma área promissora. Acredito que em cinco anos deva estar disponível para uso clínico”, diz João Bosco Oliveira, imunologista e diretor técnico e executivo do laboratório Genomika, que tem uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.

Equipamento usado em teste genético no centro de medicina personalizada do hospital Albert Einstein, em SP - Divulgação

Além de antecipar o diagnóstico, a biópsia líquida permite uma maior personalização das terapias. O objetivo é que, a partir do resultado do exame, o médico consiga prescrever drogas específicas —as chamadas terapias-alvo. Atualmente, já é possível sequenciar os genes de um paciente e identificar os riscos de desenvolvimento de doenças, além de detectar as características genéticas de tumores. 

O hospital Albert Einstein inaugurou em agosto um Centro de Medicina Personalizada que realiza o mapeamento genético familiar, para identificar alterações que possam aumentar o risco de desenvolver câncer —instrumento de diagnóstico precoce indicado apenas para quem tem risco hereditário da doença. 

Com o resultado do teste, elabora-se um programa individualizado de prevenção com exames e medicamentos específicos, dependendo do tipo de predisposição.

“Se você identifica qual é a alteração hereditária, pode pesquisar em todos os parentes. Vai ser como um endereço da família”, afirma Maria Isabel Achatz, coordenadora do departamento de oncogenética do Hospital Sírio-Libanês.

A pesquisadora explica que o mapeamento genético possibilita a detecção de tumores em estágios tão iniciais que, muitas vezes, podem ser extirpados sem o uso de químio ou radioterapia. 

“As mudanças têm sido tantas e tão rápidas que o cenário ideal é que a gente consiga ter, ao mesmo tempo, o perfil genético não só do indivíduo mas também do tumor”, afirma Achatz. “Isso minimizaria a necessidade de cirurgia e de outros tratamentos agressivos e, logo, melhora a qualidade de vida.”

Apesar de representar avanços tecnológicos, qualquer ferramenta de detecção precoce, afirmam os especialistas, é contraindicada para uso em pessoas que não estão em um grupo de risco ou não apresentam sintomas.

“Todo mundo adora o exame mais moderno, mas nem sempre é o mais indicado, com risco de haver sobrediagnóstico”, diz Artur Katz, diretor-geral do centro de oncologia do Hospital Sírio-Libanês. “Frequentemente, as pessoas têm nódulos benignos. Nesse caso, uma punção inconclusiva pode levar a cirurgias desnecessárias.”

O oncologista afirma ainda que estratégias de rastreamento consolidadas —como a mamografia e o papanicolau— são suficientes para a maior parte da população.

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