Descrição de chapéu Tecnologia Contra o Câncer

Cuidado paliativo não é só para doentes terminais, dizem médicos

Profissionais de saúde precisam ser formados para saber abordar dores, angústias e morte

Daniel Forte, coordenador da equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês
Daniel Forte, coordenador da equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês - Adriano Vizoni/Folhapress
Beatriz Maia
São Paulo

No Brasil, ainda predomina o entendimento equivocado de que os cuidados paliativos são indicados apenas aos pacientes terminais. Na verdade, essa especialidade pode reduzir o sofrimento de qualquer doente em estado grave.

Quando aplicadas corretamente, as técnicas do cuidado paliativo podem reduzir os custos do tratamento e melhorar a qualidade de vida de todo o núcleo familiar do paciente.

Especialistas da área discutiram a abordagem nesta quinta-feira (6) durante o seminário Tecnologia Contra o Câncer, realizado pela Folha, com patrocínio da Roche e apoio do Hospital Sírio-Libanês e da farmacêutica Abbvie.

Coordenador de cuidados paliativos do Sírio-Libanês, Daniel Forte ressaltou a importância da formação adequada dos profissionais de saúde para promover a tomada de decisão compartilhada. Instrumentalizar os pacientes e suas famílias para decidir caminhos de tratamento depende de técnicas complexas, que não são intuitivas.

“Ou corremos o risco de exercer uma medicina paternalista, que se responsabiliza por tudo, ou pior, jogar para as pessoas decidirem sobre assuntos sem o conhecimento necessário”, afirmou.

“É perverso perguntar a uma mãe se quer que sua criança seja sedada. O médico está transferindo sua função. Essa questão tinha que ser trabalhada lá atrás, e não nessa hora”, concordou Sandra Caires Serrano, líder do Departamento de Cuidados Paliativos do Hospital A.C.Camargo Cancer Center.

Os profissionais de saúde recomendam a intervenção da equipe de cuidados paliativos assim que uma doença grave for diagnosticada. Para avançar nas discussões, porém, é preciso que a morte deixe de ser um tabu, e as faculdades preparem os médicos para lidar com essas questões.

Os palestrantes defenderam a formação de equipes multidisciplinares de cuidado paliativo, abrindo espaço para discutir os medos do paciente e as possibilidades de insucesso do tratamento.

“Se tudo der errado, podemos cuidar para que ele não tenha dor, para que tenha uma morte serena, pacífica, digna. Quando têm o pior cenário equacionado, as pessoas conseguem se voltar para buscar o melhor”, afirmou o médico.

José Aparecido da Silva, professor de psicologia da USP-Ribeirão, reforçou a necessidade de formar médicos capazes de considerar todas as dimensões do sofrimento do doente, suas dores físicas, emocionais, sociais e espirituais. Ou, como definiu, “tornar visível aquilo que, para muitos, parece invisível”.

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