Perspectiva de afrouxamento da lei é um dos responsáveis pela alta no desmatamento

Em abril, visitei os baniwas, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, uma das regiões mais bem preservadas do mundo. O motivo era a inauguração de uma casa de pimenta, projeto que já levou essa produção a lugares como a Irlanda, onde virou ingrediente de cerveja.

Mas os índios queriam contar uma outra história. Em uma maloca-escritório, me repassaram áudios de palestras de um empresário paulista que, por meio de presentes, queria aliciá-los a explorar tantalita, um mineral de alto valor.

A mineração em área indígena, não regulamentada, tem apoio de Jair Bolsonaro (PSL), que critica a "fiscalização xiita" do Ibama enquanto adula garimpeiros e grandes fazendeiros, muitos envolvidos em crimes ambientais.

A perspectiva de afrouxamento da lei é um dos responsáveis pelo salto de 48,8% no desmatamento nos meses de campanha em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo analistas e fiscais. De agosto a outubro, perdeu-se uma floresta equivalente à cidade de São Paulo.

Com apenas 1,3% de área desmatada em suas terras (o menor percentual entre os diversos tipos de áreas protegidas), caberá aos indígenas contrapor-se ao ímpeto de repetir a política da ditadura de invasão do "espaço vazio" à custa da floresta e dos seus habitantes.

"Somos índios, resistimos há 500 anos", disse o líder Ailton Krenak ao semanário Expresso. "Fico preocupado é se os brancos vão resistir."

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