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'Colocar meta de medalhas é um pouco ilusório', diz Joaquim Cruz

"Foram os 200 metros mais importantes da minha vida".

Qualquer condutor da tocha olímpica poderia ter feito tal afirmação. Mas estas palavras vieram de quem, ao correr 800 m mais rápido do que qualquer outro atleta do mundo nos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984, conquistou a medalha de ouro. Pódio que repetiria quatro anos depois, na Olimpíada de Seul-1988, com a segunda colocação.

Por esse motivo a emoção de Joaquim Cruz, 53, ao levar a chama olímpica por 200 metros na terça-feira (3), em Taguatinga (DF), sua terra natal, ganha proporções dignas de louros olímpicos.

Responsável por aceder a pira pan-americana no Rio, em 2007, Joaquim Cruz viu na noite desta terça o fogo olímpico repousar em uma pira em Brasília, antes do símbolo seguir viagem nesta quarta (4) para Goiás. Na quinta-feira (5), é ele quem retorna para os EUA, onde treina parte da equipe norte-americana de atletismo rumo aos Jogos Paraolímpicos, em setembro.

Nesta entrevista à Folha, Joaquim Cruz fala da experiência com a tocha olímpica em casa (ele já havia carregado a de Atenas-2004, quando o revezamento passou pelo Rio), as perspectivas para a Olimpíada, a Paraolimpíada e o Brasil de hoje.

*

Taguatinga
"Foram os 200 metros mais importantes da minha vida, porque nasci ali pertinho, no Hospital São Vicente, onde minha mãe meu deu a luz e, hoje [terça], minha chama foi acesa pela segunda vez. Tive a oportunidade de dividir aquele momento com o povo brasileiro. É um momento importante para todos nós, para esquecer a divisão que há no Brasil. É hora de torcer pelos filhos, irmãos, netos, primos, para os atletas que vão representar as cores do Brasil".

Protestos no início do revezamento
"Nós temos uma responsabilidade muito grande, não só quem está organizando os Jogos, mas quem está recebendo também, o povo brasileiro. Durante a Copa quem veio lembra muito como foi bem tratado pelo povo. O Brasil foi muito bem visto porque o povo acolheu todos de forma muito carinhosa. A Olimpíada não é só futebol, são todos os esportes. Vamos precisar da ajuda do povo, para deixar uma boa imagem da Olimpíada. O resto do mundo não tem nada a ver com o que está acontecendo aqui. O esporte tem essa força, é apartidário, não discrimina, ele convida o povo a vestir uma bandeira, a do Brasil".

Momento de protestar
"Não é o momento para fazer protesto. Pelo contrário. É momento de harmonia, de paz entre os povos, não só no país, mas no mundo todo. Temos essa oportunidade de mostrar para o mundo a nossa cultura, mesmo insatisfeitos com a situação econômica e política no país. Somos brasileiros, nossa chama está bem viva e podemos acolher o mundo com o calor e carinho que sempre tivemos".

Organização brasileira
"Eu só vou ter uma ideia depois que acabar, para saber como estiveram os estádios. Neste momento as obras estão sendo concluídas e tenho certeza que estarão prontas para a Olimpíada. A vantagem da Paraolimpíada é que vamos pegar tudo pronto, ou consertado".

Atletismo brasileiro na Olimpíada
"Nós nunca chegamos a Olimpíada nenhuma, no atletismo, como favoritos a alguma medalha de ouro. Algumas fomos lá e surpreendemos. Talvez seja a mesma coisa. Não se espera muito da equipe brasileira, pelo fato de não termos feito um bom trabalho na base. Então não colhemos o resultado. Chega a Olimpíada no país e não temos os atletas que deveríamos ter, que poderíamos ter".

Apostas olímpicas do Brasil
"Se a gente conseguir acertar, podemos conseguir medalha no revezamento. Acredito no 4 x 100 m masculino. O feminino não está certo ainda. Vi uma competição dos meninos lá fora, na Mt. Sac Relay [campeonato nos EUA, sem as grandes potências, mas com bons atletas americanos, no último dia 16 de abril], e eles ganharam correndo para 38 segundos (38s91). Ali no momento, com o pessoal inspirado, se acertarem e os outros errarem, pode acontecer. É uma característica dos revezamentos. Temos que capitalizar nos erros dos outros. No salto com vara temos a Fabiana Murer, se ela conseguir segurar a saúde dela. Dentro de casa ela vai ter que saltar muito, talvez o melhor da vida dela, para subir no pódio. E a gente não pode descartar a maratona, nunca se sabe o que pode acontecer em um dia inspirado".

Top-10, a meta do COB
"Essa de colocar meta é um pouco ilusório. Meta por quê e para quê? Por que queremos o décimo lugar? Como vai ser o investimento para 2020 ou 2024? Não adianta a gente subir no quadro de medalhas e na próxima ficar em 30º. A gente tem que deixar o atleta brasileiro competir e apoiá-lo da melhor forma possível".

Paraolimpíada em casa, mas pelos EUA
"A coisa maravilhosa do esporte é que a competição fica na pista. Estou preparando meus atletas nos EUA para ter um desempenho na pista, e lá eles decidem quem são os melhores. Se você me perguntasse dez anos atrás, eu teria uma resposta diferente, diria que ia ser estranho. Mas já estive no Para-Pan de 2007, no Brasil, estive em duas Paraolimpíadas (2008 e 2012), Mundiais, então já sei como é. Tem três lugares no pódio, o meu estando acima é o que interessa, embaixo, se um brasileiro estiver lá, beleza. Estou treinando nove atletas, que ainda vão passar pela seletiva, e acredito que pelo menos sete vem, das provas de velocidade, meio-fundo e fundo".

Acender a pira no Maracanã
"Tem muita gente para acender. Nós temos Aída dos Santos [79 anos, quarta no salto em altura em Tóquio-1964], ela merece, faz parte da história. Temos muitos nomes que participaram do movimento olímpico e até esse momento não foram convidados para o revezamento e merecem".

O repórter MARCEL MERGUIZO viaja a convite da Nissan

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