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Suspeitos de ligação com terror discutiam produção de bomba, diz procurador

Os suspeitos de associação com terrorismo presos durante a Operação Hashtag compartilharam materiais que ensinavam a como construir uma bomba e disseram que a Olimpíada era a oportunidade de irem para o paraíso, de acordo com o procurador responsável pela operação, Rafael Brum Miron.

"Todos eram bem agressivos e falavam a mesma coisa: 'Temos que matar infiéis, aproveitar a Olimpíada para irmos para o paraíso'. Também repassaram entre eles instruções e fórmulas para fazer bomba", disse à Folha.

Mario Angelo/Sigmapress/Folhapress
Suspeitos de ligação com o terrorismo são conduzidos por policiais no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos
Suspeitos de ligação com o terrorismo são conduzidos por policiais no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos

Miron contou que o trabalho foi facilitado pela cooperação do FBI (polícia federal norte-americana), que enviou ao Brasil os nomes que os integrantes do grupo usavam na internet.

Nesta sexta (22), Valdir Pereira da Rocha, um dos dois suspeitos foragidos, se entregou na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia (leia texto na pág. B12). Ele se juntará aos outros dez detidos no dia anterior levados para o presídio de segurança máxima no Mato Grosso do Sul. Com isso, resta apenas um foragido, Leonide El Kadre de Melo.

LOBOS SOLITÁRIOS

Segundo o procurador, em vários momentos, os integrantes do grupo autointitulado Defensores da Sharia (lei islâmica) frisaram a necessidade de atuarem isoladamente, reforçando o perfil de lobos solitários.

Três deles chamam mais a atenção dos investigadores: Marco Mario Duarte, Alisson Luan de Oliveira e El Kadre. O trio era o que mais propagandeava ações violentas em prol do Estado Islâmico nas redes sociais, de acordo com as investigações.

Outro elemento importante na operação é um e-mail anônimo, contendo diálogos dos suspeitos, que chegou às mãos da Polícia Federal.

Parte dos investigados também publicou em sites abertos informações sobre suas relações com o islamismo, entre elas um comunicado de que havia passado pelo chamado batismo virtual.

Questionado sobre como avaliou o fato de dois ministros (Justiça e Defesa) terem se referido aos suspeitos como "amadores", Miron não discorda, mas ressalta que isso não significa que não representassem ameaça.

"Não existe suicida experiente. Ninguém será preso por 30 dias se não oferecer risco. Quem é profissional disso [terrorismo]? Eles eram muito voluntaristas, diziam 'vamos fazer isso e aquilo."

O membro do Ministério Público Federal ponderou, no entanto, que o grupo não possuía poder financeiro e, além disso, as investigações não mostram que eles estavam prontos a agir imediatamente. "Não temos ninguém comprando passagem para Rio, por exemplo. Nenhum deles era rico, não tinham recursos. Queriam viajar para a Síria e não tinham dinheiro", afirmou Miron.

ORGANIZAÇÃO

De acordo com relatório sigiloso elaborado pela PF que embasou as prisões, buscas e conduções coercitivas na quinta-feira, o grupo manifestou repetidas vezes que "todo muçulmano tem que atacar os alvos da coalizão, onde quer que estejam", fazendo referência ao conjunto de países que combatem o Estado Islâmico, como os Estados Unidos e Israel.

O documento contém os nomes de nascimento e os nomes em árabe usados pelos presos -não se sabe ainda se todos eles foram batizados na religião islâmica.

Revela também que muitos deles se dizem jihadistas e declaram o desejo de migrar para o califado (território que tem como grande líder o califa, sucessor do profeta Maomé, regido pela lei islâmica)

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, responsável por autorizar a operação, não quis comentar o conteúdo do relatório da Polícia Federal, que está sob sigilo, mas, para ele, "não há uma organização piramidal esclarecida".

"Ainda não é possível mapear a organização desse grupo, o que concluímos é que se comunicavam, mas a estrutura ainda não está bem definida", afirmou.

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