"Se acabar, é trágico."
O diretor-executivo da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Ricardo de Moura, avalia dessa forma a chance de o contrato entre sua entidade e os Correios terminar.
O vínculos entre as duas partes alcançou as bodas de prata em 2016. Mas, às vésperas dos Jogos, está sob risco. "Não se jogam no lixo 25 anos. Desmanchar é incoerência. Não posso crer numa coisa dessa", disse Moura.
O dirigente afirma que apresentou números à presidência da estatal que comprovam que a relação duradoura rendeu frutos para ambos. Assim, espera convencer os Correios de, ao menos, manter parcela do repasse.
Diego Padgurschi/Folhapress | ||
Repasse dos Correios a confederações como a de handebol caiu 10% no primeiro semestre |
"Vamos ter de nos reajustar. Ninguém está passando por um momento mais difícil do que a CBDA."
Os esportes aquáticos estão em xeque, situação longe de ser exclusiva. Outros dirigentes também expressam preocupação com o recuo de investimento após os Jogos Olímpicos do Rio.
Um importante cartola do meio olímpico, que pediu anonimato, afirmou que sua expectativa é a de que um terço das confederações com investimento estatal "sofrerão muito", principalmente por "não estarem preparadas".
Quando fala em despreparo, ele se refere a transição para buscar recursos privados no lugar dos públicos.
Segundo levantamento da Folha, 89% dos 465 atletas que estão na delegação olímpica brasileira recebem apoio de empresas estatais.
O modelo não se restringe ao Brasil. Países como China, Reino Unido e Rússia têm amparo do Estado para financiamento dos esportes.
Os EUA, cujo comitê olímpico é sustentado por verba privada, é exceção.
"O apoio no Brasil vai cair, mas não acredito que cheguemos ao nível de 2009 [quando o Brasil se tornou sede olímpica]. Quem conseguiu fazer um plano de negócios e dividir o dinheiro em várias fontes não deve ter grandes problemas", afirmou Marcus Vinícius Freire, diretor-executivo do COB.
"Estamos em uma época de crise, ajustes serão feitos, as empresas estão revendo seus planos. O que tivemos aqui [em 2016] é o pico, depois da Olimpíada é normal que caia um pouco", disse.
A Folha apurou, contudo, que é grande o temor entre membros da cúpula do COB que haja uma redução substancial desse financiamento.
O esporte paraolímpico, cujos Jogos ocorrem entre 7 a 18 de setembro, conseguiu o primeiro patrocinador privado, a Braskem, só em 2015.
O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro), além de aumento da receita da Lei Piva (deve ultrapassar os R$ 100 milhões neste ano), teve também apoio da Caixa (R$ 120 milhões entre 2013 e 2016).
"Há grande preocupação de todos os dirigentes do esporte nacional em relação à diminuição [do investimento], não só das estatais mas também do Ministério do Esporte", afirmou o presidente do comitê, Andrew Parsons.
Ele ainda não negociou a renovação do contrato com a Caixa, que acaba em 31 de dezembro deste ano, mas se disse confiante. "A esmagadora maioria dos dirigentes esportivos tem essa grande preocupação em comum."
O banco também patrocina, desde 2001, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo). "Estou otimista em relação à Caixa. Tivemos uma conversa preliminar com um interlocutor e ficamos de retomar depois dos Jogos. Mas não há nada definido", disse José Antonio Martins Fernandes, presidente da CBAt.