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Da periferia para o bi olímpico, Serginho vai poder cuidar da família e de cavalos

Acabou! Enfim, Serginho vai poder tomar sua tubaína, buscar o filho segunda-feira no colégio, ir aos aniversários da família e cuidar de cavalos.

Na madrugada de sábado (20), logo após a classificação para a final, o melhor líbero de todos os tempos começava a realizar o sonho de ficar com a família, sem o sofrimento e a responsabilidade que perseguem os atletas.

Do lado de fora do Maracanãzinho, onde tinha acabado de se classificar para a quarta final olímpica consecutiva, feito inédito em esportes coletivos, encontrou os três filhos (Marlon, Matheus e Martin) e começou a comer um escondidinho, em uma bandeja de plástico, dessa de aquecer no micro-ondas.

Ali, mais de 1h da manhã, entre uma garfada e outra, parecia estar realizando o simples desejo de ser apenas mais um no mundo. Mas não o é. Agora é bicampeão olímpico. Até hoje eram apenas 12 brasileiros. Dois no vôlei, com Giovane e Maurício. Último ato de quem expressou durante as últimas duas semanas de Olimpíada no Rio o sonho de descansar.

"Não aguento mais", "Não vejo a hora de acabar", "estou velho", não se cansava de repetir o incansável Serginho.

Dentro de quadra, porém, via-se o outro homem. O Escadinha do vôlei. Aquele que recebeu o apelido pela semelhança física com o famoso traficante carioca dos anos 1980 e 1990. Hoje, ainda chamado de Escada por companheiros e por Bernardinho, o garoto que já vendeu de geladinho a água sanitária nas ruas de São Paulo, agora vende sonho para garotos "baixinhos" como ele. Inspira gerações como foi inspirado a jogar vôlei pelos campeões olímpicos de Barcelona-1992.

Do primeiro ao último ponto, nas duas derrotas ou nas seis vitórias no Rio, lá estava o jogador mais vibrante da seleção brasileira.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

Se precisava proteger o promissor Lucarelli, contundido, lá estava ele se sacrificando na recepção. Se precisava correr atrás da bola porque o gigante Lucão não iria chegar, lá estava ele se atirando na bola onde quer que ela fosse. E, após tudo isso, uma comemoração no melhor estilo gol de futebol.

Como se fosse seu ídolo corintiano Neto, a quem homenageia vestindo a camisa 10 da seleção, Serginho vira-se para a arquibancada do Maracanãzinho e celebra o gol, ou os gols, 38 vezes até a decisão, mais duas no dia da consagração com o ouro.

Essa é a função do alto do seu 1,84 m, evitar pontos. E assim foi eleito melhor do mundo em 2009, fato inédito em sua posição, que foi criada depois dele tentar ser ponteiro, sem sucesso.

Bicampeão mundial, dois ouros e duas pratas olímpicas, o único remanescente da equipe campeã dos Jogos de Atenas-2004 reencontrou a Itália em uma decisão neste último dia de Olimpíada.

Assim como na primeira vez, venceu na despedida.

Passaram-se 15 anos desde o primeiro jogo com a camisa verde e amarela. Estreou no mesmo ano em que Bernardinho assumia o comando da equipe. E foi o chefe quem o convenceu a voltar em 2015. A prata de Londres-2012 devia ter encerrado o ciclo dele na seleção.

Mas o treinador precisava da liderança técnico e pessoal do paranaense filho de lavradores de café que se identifica mesmo é com a periferia de São Paulo.

Nem mesmo as dores nas costas –que acabaram em cirurgia– impediram o retorno.

Das ruas de Pirituba, onde mora e gosta de jogar futebol, para o mundo e agora, enfim, fazendo o caminho de volta.

"Não aguento mais viajar", afirma o atleta que quer mesmo é cuidar de cavalos no haras em Jarinu (SP) e da família na zona norte da capital paulista a partir de agora. "Quero ficar de onde eu vim, do meio do mato", diz o filho de Diamante do Norte (PR).

Despede-se como o único atleta brasileiro a conquistar medalha em quatro Olimpíadas (dois ouros e duas pratas). E seguidas.

Agora ele pode descansar. Descer do pódio e permanecer no olimpo.

Enfim, acabou.

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