Foi uma grande festa. E um alívio ainda maior que a Olimpíada passou sem grandes sobressaltos.
A exemplo do que aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014, o clima de pessimismo que se viu na imprensa internacional antes do início do evento global foi substituído por uma surpresa positiva. No fim, (quase) tudo deu certo. O Brasil superou as expectativas e não só passou pelo evento sem ter sua imagem manchada, como mostrou que sabe festejar como nenhum outro país.
O evento foi um sucesso, é verdade, mas essa avaliação pode esconder seu verdadeiro efeito sobre a reputação internacional do Brasil.
Apesar de ter acertado na organização e de ter saído da Olimpíada recebendo elogios por todo o mundo, o Brasil falhou na sua tentativa de usar grandes eventos internacionais para transformar sua "marca" global. Em vez de melhorar sua reputação, os jogos serviram para reforçar estereótipos e consolidar a imagem do Brasil como um país decorativo.
Quando o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa e a Olimpíada, na época em que tudo ia bem na economia e que o país vendia no exterior a imagem de uma potência ascendente, a ideia era de que poderíamos mostrar ao mundo que nossa nação é mais do que praia, carnaval e futebol —tanto que o ex-presidente Lula comemorou a conquista alegando que o Brasil viraria um país de "primeira classe".
Passados os dois eventos, escapamos do vexame, mas reforçamos os clichês já conhecidos do Brasil no mundo: Somos um país de festa.
Parte da imprensa internacional encerrava a cobertura apontando o que vem para o país a partir de agora: a comemoração seria trocada pela "dura realidade" de impeachment e recessão.
Entre estudiosos de "nation branding", área de pesquisa que avalia a reputação internacional de países, a ideia de nação decorativa indica que o lugar costuma ser bem avaliado nos aspectos leves da sua personalidade, mas escorrega nas características mais "sérias".
Pesquisas de opinião sobre a reputação de países costumam indicar que o Brasil é visto como um lugar de povo amigável, cultura forte, com ambiente para turismo e diversão. Por outro lado, não aparece bem em avaliações sobre seriedade política ou eficiência econômica.
Isso não chega a ser um problema. Poucos países conseguem aliar lazer e eficiência, e o exemplo de nação decorativa é a Itália, que vai muito bem mesmo assim.
E o Brasil pode aproveitar para capitalizar este perfil. Segundo uma pesquisa do Ministério do Turismo, nove entre dez estrangeiros que visitaram o país pela primeira vez nos Jogos têm intenção de voltar.
UFANISTAS E DESIGUAIS
Além dos clichês básicos, o patriotismo e a desigualdade se juntaram em um destaque da imagem brasileira.
Durante a Olimpíada, não faltaram análises estrangeiras indicando o orgulho dos brasileiros ao sediar os Jogos, torcer pelos seus atletas, bem como o alívio nacional de ela passar sem problemas.
O nacionalismo foi especialmente destacado no caso do falso assalto ao nadador americano Ryan Lochte.
Depois de aparecer como provável mancha na imagem dos Jogos, o caso Lochte mostrou ao mundo que o Brasil leva a sério casos de violência e que não é uma "terra sem lei" onde os gringos podem fazer o que quiserem sem se responsabilizar. Ao mostrar a violência que acontecia fora da área olímpica do Rio, a cobertura feita por veículos sérios revelou a desigualdade com a qual a criminalidade é tratada no país.
Ficou a imagem de que os convidados recebem tratamento especial, mas devem se comportar durante a festa.