Grande
Prêmio Folha de Jornalismo 1995
Bancos aplicam R$ 3,6 mi no Congresso
08/10/95
Da Sucursal de Brasília
O Congresso mantém intocada há sete anos a reserva de mercado para
os bancos nacionais. A regra, criada pela Constituição de 88, deveria
ser transitória.
Esse é um dos principais interesses políticos dos bancos privados
nacionais, que investiram pesado na eleição de parlamentares.
Segundo os gastos declarados à Justiça Eleitoral em 13 Estados,
os bancos "aplicaram'' R$ 3,6 milhões no financiamento das campanhas
de parlamentares eleitos. Ao lado das empreiteiras, foram os maiores
patrocinadores das campanhas.
O argumento dos bancos para evitar a abertura de novas agências
de instituições estrangeiras no país é o mesmo repetido por alguns
parlamentares: os bancos brasileiros são discriminados lá fora.
"Tem que haver reciprocidade'', defende o deputado Paes Landim
(PFL-PI), o parlamentar que mais recebeu dinheiro dos bancos na
campanha.
Enquanto não for regulamentado o artigo 192, que dispõe sobre o
sistema financeiro, os bancos estrangeiros estão proibidos de aumentar
sua rede de agências ou seu capital no país.
Só no mês passado o Executivo decidiu utilizar a brecha do texto
constitucional para permitir a venda de bancos estaduais.
Mas a entrada de bancos estrangeiros, se houver, será condicionada
à autorização do CMN (Conselho Monetário Nacional).
A regulamentação do artigo 192 tocará em pelo menos dois outros
temas estratégicos para os bancos nacionais: o limite máximo de
12% para os juros anuais e a criação de um seguro destinado a cobrir
os depósitos da clientela, previstos no texto constitucional.
No comando da comissão especial da Câmara encarregada de regulamentar
o artigo estão três deputados que receberam dinheiro dos bancos
em suas campanhas.
O cargo mais importante é o do relator da comissão, Benito Gama
(PFL-BA), cuja campanha recebeu R$ 80 mil do sistema financeiro.
Na cúpula da comissão estão ainda os deputados Antônio Kandir (PSDB-SP),
segundo vice-presidente, e Mussa Demes (PFL-PI), terceiro vice-presidente,
que receberam de bancos R$ 100 mil cada.
Benito Gama diz que pretende apresentar seu relatório no final do
ano. Ele atribuiu a demora da regulamentação ao comportamento da
economia: "Faltaram condições macroeconômicas.''
As contribuições dos bancos informadas ao TSE são irrisórias, se
comparadas a seus lucros recentes. O lucro do Bradesco, o banco
mais ativo na campanha eleitoral, foi de R$ 445,7 milhões em 94.
O do Itaú, R$ 320 milhões.
Reserva
O texto da Constituição sobre a reserva de mercado para os bancos
nacionais é praticamente idêntico ao proposto pela Comissão do Sistema
Tributário, Orçamento e Finanças, cujo relator era o então deputado,
José Serra, hoje ministro do Planejamento. O relatório de Serra
foi mantido pelo relator da Comissão de Sistematização, o então
deputado Bernardo Cabral (PMDB-AM), e foi aprovado em plenário.
(Gustavo Patu e Marta Salomon)
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