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29/02/2008
Carta da semana


Não há Futuro sem Educa-Ação


“Não há Futuro sem Educa-Ação
Não há Futuro sem o professor
Nem Liberdade sem Educa-Ação

Uma escola começa com o professor
Uma escola precisa do professor
uma escola que não tem o professor
Não é uma escola não
Uma escola que não respeita o professor
Não é uma escola, não
Uma escola que escuta o professor
Assim, é uma escola, sim senhor.

Cidadãos sim! Coitados não! Os alunos da escola pública municipal de São Paulo, não são coitados. Eles são sujeitos de direitos. Deixem que eles sejam sujeitos também de deveres. Cidadania se constrói por essas duas vias.

É quase que sagrado a leitura que faço dos artigos do jornalista Gilberto Dimenstein, aos domingos, no jornal Folha de S. Paulo. Ele tem se pautado em escrever, temas relacionados à educação. Considero Dimenstein um dos mais relevantes interlocutores do jornalismo no assunto. Abordando de forma clara, fazendo considerações que conduz a todos que estão vinculados a educação, a uma reflexão. No artigo do dia 10 de fevereiro, ele aborda o resultado do Prova São Paulo, um sistema de avaliação de aprendizagem dos alunos, criado pela prefeitura de São Paulo.

Ao ler o artigo, logo veio à cabeça, a semana que passamos na rede municipal em momento de planejamento. O nosso planejamento foi guiado pelo resultado e desempenho de aprendizagem dos nossos alunos, nos resultados apresentados na unidade escolar, na diretoria de ensino e na Secretaria Municipal de Educação. Durante dois dias, nossa escola e a rede ouviu a fala do secretário de educação, seus auxiliares, especialistas em avaliação, e outros interlocutores vinculados ao tema. Estamos começando o ano, guiado por uma agenda do sistema de educação. Acredito que, todas as orientações providas pelo sistema e seus interlocutores, vem para o bem das nossas crianças matriculadas na rede. Não é? Porém não posso deixar de me ater aos dados comparativos mencionados por Dimenstein, que me chamou a atenção.Duas alunas de uma escola particular, escolhida aleatoriamente, fizeram a prova São Paulo e, obtiveram a nota máxima naquela avaliação.

Possivelmente a escola mencionada por Dimenstein esteja enquadrada entre aquelas de nível A ou B. Ou seja, nessa escola, estão possivelmente matriculadas, crianças, cujos pais possuem poder aquisitivo para um alto padrão de consumo. Inclusive na questão educacional. O filho, por exemplo, de um professor de uma escola pública, que trabalha num só período, não terá acesso a essa escola. Pois, o seu salário não é o suficiente para bancar tamanha despesa. Por que não dizer, tamanho investimento.

Voltando ao artigo, Dimenstein nos trás informações relevantes. As duas meninas, obtiveram a nota máxima, numa escala que vai de 0 a 325 pontos, avaliando habilidades e competências como: leitura, escrita e interpretação. Essas crianças aprenderam a ler porque foram estimuladas ao ato da leitura, ou desenvolveram o gosto pela leitura porque foram obrigadas a ler. Com a autoridade da escola, os professores instituem no currículo as leituras obrigatórias. As meninas podem também ter aprendido a ler, combinando dois fatores: o estímulo e a obrigação. O fato é que essas e tantas outras crianças, suas amigas lêem. Ninguém aprende a ler não lendo. Aprende-se a ler, lendo. Por isso, elas aprenderam.

A Prova São Paulo detecta também, que as duas meninas estavam no mesmo nível de aprendizagem dos alunos da rede municipal, matriculados na 8ª série, digo no 8º ano do ensino fundamental. Sorte dessas duas criaturas! Assim como seus pais, o ministro da educação, os secretários da rede municipal e estadual, os dirigentes de educação, os supervisores, maioria dos diretores, parte expressiva dos professores, não confiam o futuro dos seus filhos à escola pública municipal.

Entretanto, quero fazer algumas considerações que julgo oportunas. A avaliação de desempenho de aprendizagem dos alunos na rede, é uma prova. Prova essa batizada como Prova São Paulo. O olhar e o objetivo dessa prova, não é o mesmo objetivo das provas praticadas como instrumentos de aprendizagem e resultados nas escolas particulares. Lá, a prova, obedece a uma escala de 0 a 10. Nessa escala, a criança entende, o pai entende, o professor entende, o jornalista entende. Os únicos que não entendem são os interlocutores do sistema de educação.

As nossas brilhantes meninas foram bem. Parabéns! Por que foram bem? A resposta parece complicada, mas é simples. Nos seis anos de estudo que elas tiveram, ou seja, da 1ª a 6ª série, elas fizeram, no mínimo, duas provas bimestrais estabelecidas pela autoridade chamada escola. Duas provas bimestrais, ao final de cada ano, perfaz um total de 8 provas. No final dos seis anos, 48 provas foram realizadas. Nessa mesma escola outras provas foram feitas pelos professores. Nesse período de seis anos, as duas crianças, dessa e de outras escolas particulares fizeram pelo menos 500 provas. Quantas provas as crianças da rede municipal fizeram conduzida pela instituição chamada escola? Poucas. Nenhuma. Poucas escolas municipais ousaram. Qual o objetivo da prova nas escolas particulares? Diagnosticar, o que o aluno sabe? Ou obter resultados de aprendizagem dos alunos, através de notas ou valores entendidos por todos?

A prova São Paulo, foi feita em forma de teste, com alternativas, que vão de A a E. Testes iguais aos 500 praticados pelas crianças do exemplo de Dimenstein. E as nossas crianças, quantas provas fizeram? O sistema e a escola, desprezam a prova. As nossas crianças não aprendem a fazer prova. No entanto, quem vai fazer uma prova, no mínimo precisa dominar habilidades básicas, pelo menos, o ler e o escrever. A prova não deve ser um fim de aprendizagem nela mesma, mas é um meio eficaz de se estabelecer responsabilidade pedagógicas entre todos os envolvidos no ato de ensinar e de aprender.

O ensinar é de responsabilidade do professor. Na outra mão, o aprender é de responsabilidade do aluno. Aprender e ensinar configuram-se essência do ato pedagógico. Não se pode isentar os dois principais agentes desse ato, ou seja, professor e alunos das suas responsabilidades. Ah! Educar é um ato pedagógico da escola. De toda comunidade escolar.

Nas escolas públicas, alguns professores mais ousados ainda aplicam a prova, porém, não há incentivo, nem recurso na escola para tal procedimento pedagógico. Aqui na rede municipal, fazemos sondagem: procedimento pedagógico de orientação dos técnicos especialistas em educação da secretaria municipal de educação e das diretorias de educação. Afinal de contas, o que é sondagem? Sondagem, uma espécie de avaliação, não caracterizado como prova, que tem como objetivo saber o que o aluno não aprendeu. Ou seja, diagnosticar para corrigir rumos. Será que os pais das crianças sabem o que é? E nossas crianças compreendem? E os nossos professores sujeitos a todas formas de invenções, técnicas , projetos, programas e outros nomes mais, estão compreendendo? E as direções de escola, agentes cumpridoras de ordens, sabem o que estão fazendo? Quantas dúvidas. O fato é que nossas crianças foram mal na Prova São Paulo.

Pode ser romântico, esse instrumento de avaliação chamado sondagem, entretanto, ineficaz. Não estabelece responsabilidade mútua, entre alunos e professores. Apenas o professor é responsabilizado pelo ônus do fracasso. Deixem de tratar os alunos da escola pública como coitadinhos! Eles não os são. São cidadãos dotados de direitos. Deixem que eles sejam cidadãos também do dever! Não estabelecer responsabilidades pedagógicas na comunidade escolar, ou seja, com os diretores, professores, pais e alunos na busca pelo sucesso escolar, tem nos levado ao fracasso.

Não é esse o instrumento, chamado sondagem, que as meninas preparadas brilhantemente pela escola particular tem recebido. Logo cedo, elas aprendem a fazer prova. O resultado da prova, vem pela nota que as colocam na condição de reprovação ou na condição de aprovação. Isso é determinante para o estímulo e para a dedicação da criança.

Aqui na rede municipal não educamos os nossos alunos para a responsabilidade da nota. Pra que notas? Se elas não vão valer para nada. Enquanto isso, duas alunas da escola particular aprendem desde cedo que zero é zero e dez é dez. A busca pelo dez deve se configurar num objetivo coletivo da escola. Cada sujeito da comunidade escolar deverá compor na cumplicidade de alcançar o objetivo final. Ninguém consegue 10 sem as habilidades básicas.

A recompensa de um estudante em qualquer nível, é a nota. Enquanto a rede particular recompensa os seus alunos que alcançam sucesso escolar através da obtenção da nota máxima, ou seja, o dez, as crianças da rede municipal recebem o que? P, S e o NS! O que representa isso como forma de recompensa para a criança que se dedicou? E para os seus pais? Esses conceitos, são poucos significantes. O fato é que, pais e alunos, não sentem-se recompensados por nada, pois não compreendem essa forma de recompensa.

Enquanto a escola pública, brincar com experimentos dos especialistas em educação, que usam a escola pública como laboratório para as suas teses, não teremos futuro. Eles não colocam os seus filhos nesses laboratórios, preferem os métodos pelos quais, os ajudaram a ingressar nas melhores universidades e obterem os melhores empregos e salários.”
Raimundo Gilson Rodrigues Gomes - profgilson@superig.com.br

CIDADÃO JORNALISTA é um espaço destinado aos leitores e ouvintes que, ao relatarem fatos e experiências de sua cidade, comunidade e cotidiano, tornam-se repórteres por um momento.

 
 

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