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REFLEXÃO


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urbanidade
08/09/2004
Rasgar dinheiro faz bem

O ex-office-boy João da Cruz Filho descobriu que as cédulas velhas de dinheiro picotadas pelo Banco Central tinham valor. Resolveu então fazer uma experiência para transformá-las, de novo, em dinheiro -e está conseguindo.

Os pedacinhos de dinheiro são agora matéria-prima para a confecção de agendas e cadernos a baixo custo. "Não há quem não se impressione com a colagem de fragmentos de dinheiro", orgulha-se.

Antes de virar inventor de papéis reciclados, João começou como office-boy da editoria de fotografia numa redação de jornal. "Meu sonho era ser fotógrafo." O sonho era estimulado pelas fotos que via de Cartier-Bresson e Sebastião Salgado.

De posse de um câmara, saía pela cidade fotografando gente pela rua, especialmente crianças. Não deu certo como fotógrafo profissional, mas a convivência nas ruas apresentou-lhe um novo ângulo profissional. Acabou como arte-educador na Febem, onde faltava de tudo, a começar pelas folhas de papel para as atividades. Despretensiosamente, ele reaproveitava as folhas já utilizadas pelo departamento administrativo. Gostou, decidiu levar a sério estudos sobre reciclagem de papel e fez disso sua profissão.

Foi chamado para ajudar projetos comunitários que buscavam fonte de renda na reciclagem de papel para a fabricação de produtos. Até que soube que o dinheiro destruído pelo Banco Central ia para o lixo. Daí iniciou pesquisas para saber como aproveitar aquele material. Surgiu assim uma linha especial de agendas e cadernos, vendidos pela Reciclar, uma entidade que atua na comunidade do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo.

No prazer pela invenção, ele está testando uma idéia ainda mais original: papel que vira planta. "Estou misturando sementes no papel, que, se colocado na terra, passa a germinar. O papel se desfaz em três meses e nasce ali um planta."

Seu maior projeto, porém, é a auto-reciclagem. Com 36 anos de idade, João fixou como maior meta cursar engenharia de produção para ampliar suas habilidades. Mas ele precisa fazer o inverso de sua invenção com as notas picadas do Banco Central: precisa aprender a fazer, com o papel, dinheiro de verdade para entrar em uma boa faculdade.


Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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