Um
em cada 10 brasileiros que chega ao topo da sociedade é negro
Enquanto os
brancos têm rendimento mensal médio de 760 reais, os
negros ainda recebem uma média de 400 reais por mês,
quase a metade. Essa foi uma das conclusões do último
levantamento realizado pelo Dieese e pela Fundação
Seade sobre a desigualdade salarial entre brancos e negros no Brasil.
Segundo o estudo,
a explicação para o abismo que separa os rendimentos
de negros e brancos está no fato de ainda existe uma diferença
salarial, uma vez que os negros não ocupam os mesmos postos
de trabalho que os brancos e nem estão habilitados a fazê-lo.
A desigualdade é perceptível também em níveis
nacionais. A população negra representa 45% do total
da sociedade, mas, quando se analisa o 1,7 milhão de brasileiros
com maior renda, os negros são apenas 10%.
No entanto,
as estatísticas apontam que a situação do negro
brasileiro tem melhorado em alguns setores. Segundo um levantamento
feito pelo IBGE, em cada grupo de dez negros, quatro estão
parados na pirâmide social. Dos seis que estão se mexendo,
cinco estão subindo. No mercado de trabalho, também
ocorreram avanços. Há dez anos, apenas 10% dos negros
eram empregadores. Hoje os patrões negros representam 22%
do total.
Leia
mais:
- Onde estão os negros?
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Onde
estão os negros?
Saiu o último
estudo sobre desigualdade salarial entre brancos e negros no Brasil.
De acordo com o levantamento realizado pelo Dieese e pela Fundação
Seade, os brancos têm rendimento mensal médio de 760
reais, quase o dobro dos 400 reais que os negros recebem por mês.
Apresentados
dessa forma, os números apontam para uma idéia equivocada
e simplista de que os patrões estão contratando brancos
e negros para postos de igual responsabilidade, mas, num ato preconceituoso,
decidem dar aos brancos um salário mais alto e aos negros
vencimentos mais modestos. Isso não acontece. Se estivesse
ocorrendo, o problema racial no Brasil até poderia ser enfrentado
na delegacia de polícia ou na Justiça.
A explicação
para o abismo que separa os rendimentos de negros e brancos é
de outra natureza, muito mais profunda. Negros e brancos recebem
salários diferentes porque não ocupam os mesmos postos
de trabalho - nem estão habilitados a fazê-lo. A máquina
que produz a fissão social separa as raças aos poucos,
e de forma cirúrgica. De que outra maneira se pode explicar
que, quando observada em bloco, a população negra
representa 45% do total da sociedade, mas, quando se analisa o 1,7
milhão de brasileiros com maior renda, os negros são
apenas 10%?
A foto ao lado
é um bom exemplo do problema. Ela mostra alunos do curso
de marketing de uma universidade paulista que gentilmente se deixaram
fotografar para esta reportagem. Tente contar quantos estudantes
negros aparecem na sala. Um talvez? Esse grupo não é
uma exceção, e os alunos selecionados para o curso
foram escolhidos por vestibular - não em entrevistas pessoais,
que poderiam dar margem a práticas discriminatórias.
Os negros não
aparecem na fotografia simplesmente porque não conseguiram
chegar à universidade. Por razões diversas, a maioria
deles ficou pelo caminho. Sem acesso à faculdade, não
se habilitam a um bom posto de trabalho. Relegados a funções
secundárias, acabam recebendo menos no fim do mês.
O resultado aparece no estudo: tomando-se em bloco o vencimento
dos negros, eles realmente ganham menos que os brancos, já
que possuem emprego de menor destaque.
Para entender
por que os negros ganham menos, é preciso ir à origem
do problema. Em primeiro lugar, está o fator escolaridade.
Segundo uma pesquisa feita pelo Ipea, o tempo médio de estudo
de um jovem branco com 25 anos é de 8,4 anos, enquanto o
negro na mesma idade passou apenas 6,1 anos na escola. O abismo
fica evidente quando se observa o currículo escolar.
Considerando
que um branco e um negro começaram juntos na 1ª série
do ensino fundamental, o branco vai até o 1º ano do
colegial e o negro abandona a escola na 6ª série. Como
cada ano de estudo na vida de uma pessoa representa um acréscimo
de 16% em sua renda, a defasagem escolar torna-se a primeira barreira
para a conquista de melhor remuneração.
Mas por que
os negros estudam menos? Uma resposta está na renda familiar
dos estudantes. Ela é mais baixa entre os negros, obrigando
boa parte das crianças a interromper os estudos mais cedo
para ajudar no orçamento doméstico. Trata-se de um
círculo vicioso difícil de ser rompido. Como são
mais pobres, os negros estudam menos. Como estudam menos, eles permanecem
na pobreza.
Muitos estudiosos
acreditam que a melhor maneira de reduzir a desigualdade é
estabelecer cotas para negros na escola e no mercado de trabalho.
Nos Estados Unidos, o sistema de cotas nas universidades e na administração
pública fez com que a classe média negra dobrasse
nos últimos vinte anos. Mas as chamadas "políticas
afirmativas" também produziram uma nova forma de disputa
racial. Um candidato branco que perde um bom emprego não
por ser menos capacitado mas porque a lei favorece o negro normalmente
se considera injustiçado pela política de cotas.
Nesse caso,
a política pode ser lida como uma forma de preconceito. A
despeito dos debates acirrados, a verdade é que nos Estados
Unidos o sistema se mostrou eficiente para combater a desigualdade.
No Brasil, alguns órgãos públicos anunciaram
recentemente a reserva de vagas para negros. Também está
sendo criada uma lei que estabelece a cota mínima de 25%
para atores negros em programas de televisão.
As estatísticas
apontam que a situação do negro brasileiro tem melhorado
em alguns setores. Segundo um levantamento feito pelo IBGE, em cada
grupo de dez negros, quatro estão parados na pirâmide
social. Dos seis que estão se mexendo, cinco estão
subindo. No mercado de trabalho, também ocorreram avanços.
Há dez
anos, apenas 10% dos negros eram empregadores. Hoje os patrões
negros representam 22% do total. Como conseqüência, tornaram-se
mais freqüentes cenas de negros em restaurantes caros ou fazendo
compras em lojas chiques nos shoppings. Os avanços amenizam
o problema, mas não escondem o fato de que existe enorme
desigualdade racial no Brasil. Ainda falta muito para que as salas
das universidades, os cargos de chefia e os postos públicos
mais cobiçados sejam preenchidos de forma equilibrada entre
brancos e negros.
(Veja - 02/12/02)
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