Primeiro
ano de Lula não entusiasma as empresas
O setor produtivo
não acredita que as principais variáveis macroeconômicas
apresentem mudanças significativas no primeiro ano do governo
Lula. A despeito desse cenário, as empresas estimam que conseguirão
produzir mais, aumentar as exportações e os lucros
e que o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2003 vai crescer
mais do que em 2002.
Em síntese,
foi o que apontou pesquisa divulgada pela consultoria Deloitte Touche
Tohmatsu, que possui escritórios em 140 países e atua
no Brasil desde 1911.
De acordo com a pesquisa, a taxa de inflação do IPCA
(a inflação oficial, calculada pelo IBGE), será
de 11% no próximo ano. Entre janeiro e novembro deste ano,
a alta acumulada do IPCA chega a 10,22%. O mercado financeiro aposta
que o fechamento de 2002 será na casa de 11%.
Ao serem indagados
sobre a expectativa da taxa de juros em 2003, 37% dos executivos
apostaram que ela ficará nos mesmos níveis deste ano.
Para 49%, deverá diminuir, enquanto apenas 14% acreditam
que subirá mais.
Foram enviados
questionários às mil maiores empresas do país
(nacionais e estrangeiras). As que responderam representam faturamento
total de R$ 95 bilhões. Do grupo, 52% são controladas
por capital estrangeiro.
Sobre o comportamento
do câmbio, 38% dos empresários afirmam que o real deverá
desvalorizar-se em relação ao dólar em percentuais
superiores à inflação. Para 30%, a desvalorização
acompanhará a inflação. E 32% estimam que será
em níveis (nominais) inferiores à inflação.
A pesquisa revelou
que as empresas têm uma expectativa ambígua quanto
ao governo Lula. Primeiro porque consideram que o governo priorizará
aspectos considerados chaves para suas áreas de atuação:
incentivo à produção agrícola e à
produção industrial. Ao mesmo tempo, são céticos
em relação ao sucesso do futuro governo ao tratar
da política cambial.
Quando indagados
sobre o incentivo à produção industrial, 63%
disseram ter boas expectativas sobre a atuação do
gabinete petista. Percentual praticamente igual aos 62% que têm
boas perspectivas de que a agricultura estará entre as prioridades
do novo governo. Educação e saúde também
foram citadas como áreas que deverão ser beneficiadas.
O mesmo otimismo
não existe quando o assunto é a política cambial.
Apenas 1% do empresariado diz que o governo terá ótima
atuação nesse campo. Para a maioria (50% dos entrevistados),
o desempenho será apenas regular. Outros 28% o prevêem
como bom. E não desprezíveis 17% apostam que o PT
será malsucedido nesse item. ""Como ainda não
eram conhecidos os nomes da equipe econômica, essa incerteza
pode estar refletida na pesquisa", disse Edgar Jabbour, sócio-diretor
da Deloitte.
Na lista do
que deveriam ser as prioridades do novo governo, em um questionário
de múltiplas respostas, a reforma tributária despontou
com 88% das citações.
Em seguida, apareceram crescimento econômico (65%), reforma
da Previdência (62%), controle da inflação (53%),
incentivo a investimentos que gerem empregos (51%) e, por fim, incentivo
às exportações (50%). A maioria (68%) não
prevê mudança na carga tributária em 2003.
Sobre as formas
com as quais pretendem financiar seus investimentos em 2003, 68%
das empresas responderam que o farão com recursos próprios.
Outras 31% pretendem recorrer a financiamentos no mercado interno
para se expandir e 22% vêem nos bancos oficiais uma fonte
de recursos para possíveis investimentos.
Entre as empresas
estrangeiras, 66% afirmaram que continuarão a investidor
no Brasil, enquanto 30% disseram não ter nenhum plano de
investimento a curto prazo. Somente 4% disseram pretender desinvestir.
Os lucros deste
ano, aponta a pesquisa, aumentaram em relação aos
de 2001 em 49% das empresas consultadas. Diminuíram em 35%
delas e, em 16%, se mantiveram no mesmo nível do ano passado.
A grande maioria
(74%) prevê que conseguirá obter maiores lucros em
2003. Expectativa que se confirma quando 55% dos consultados respondem
que acreditam que vão utilizar mais de 80% da capacidade
produtiva instalada ao longo do ano.
Aparentemente,
as empresas vislumbram somente uma alternativa a curto prazo para
verem cumpridos seus planos de aumentar os lucros e a produção.
A saída, dizem, são as exportações.
De acordo com
a pesquisa, somente uma de cada quatro empresas consultadas não
realiza operações de comércio exterior: 60%
são exportadoras e 62% importam mercadorias.
Os empresários
defendem uma política de prioridades no mercado exterior
oposta à anunciada pelo futuro governo. Para 39% deles, a
Alca será o bloco econômico que mais benefícios
trará ao Brasil. Por isso, 87% disseram ser favoráveis
à sua criação.
(Folha de S. Paulo - 13/12/02)
|
|
|
Subir
|
|
|