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11 /04/2008

Pedagoga Comunitária aumenta participação dos pais e reduz retenção escolar

Bruno Andreoni

No segundo semestre de 2005, a Secretaria Municipal da Educação da cidade de Praia Grande (SP) desenvolveu o projeto de implementação do Programa de Educação Comunitária no município.

Para isto, criou a função de “Pedagoga Comunitária”: uma profissional da escola, com formação em pedagogia que assumiria a função em tempo integral. O principal papel deste educador seria estabelecer um elo entre escola, família e comunidade.
As 52 pedagogas (uma por escola) foram escolhidas através de um processo de
eleição nos Conselhos de cada escola.

O projeto iniciou com uma formação de 120 horas em educação comunitária, com aulas semanais, elaboração de propostas de projetos para cada escola e acompanhamento dos resultados.

Hoje, o projeto já está firmado nas escolas por meio do trabalho de 21 professoras que estão divididas por bairros de atuação, sendo responsáveis por duas ou três escolas.

O objetivo do trabalho das pedagogas comunitárias é utilizar o conceito de Bairro–Escola para aproximar tanto os pais do processo educativo de seus filhos, quanto a escola da comunidade local.

Com o foco na participação familiar na escola, a hipótese que foi lançada no início de 2007 para melhoria de desempenho escolar e redução do índice de retenção escolar já mostra resultado: um aumento de 23% da participação por parte dos pais e uma redução de 9% na retenção escolar.

Para as pedagogas comunitárias o que mais importa é o reconhecimento de seu trabalho durante todo o processo que, hoje, é uma referência tanto para a família quanto para a escola. A ação é o elo entre escola, comunidade e família e dentre suas responsabilidades residem duas que são de extrema importância: reconhecimento local, ou seja, análise e levantamento da realidade local para poder agir e a possibilidade de ouvir e acolher a comunidade.

As pedagogas realizam atendimento direto com as famílias para que elas se impliquem no processo escolar dos filhos, com direito a visitas por parte das pedagogas comunitárias até as casas das famílias para conversa e orientação junto aos pais na cobrança da participação escolar. Este processo de orientação familiar é realizado também na escola.

O processo não termina somente quando o pedagogo realiza a visita ou a orientação. São muitos os casos em que oficinas e projetos de intervenção cotidiana, sejam de geração de renda ou com foco cultural, são utilizados como ferramentas para aproximar cada vez mais pais e comunidade local da escola, abrindo assim a escola e transformando-a em um pólo de referencia local. São projetos variados que buscam parceiras locais e talentos, também locais, como forma de interação de maneira simples, prática e lógica.

Imagine um projeto de reciclagem. Qual escola não aborda esse tema durante o ano através de uma atividade interdisciplinar? Mas se esse assunto é importante pedagogicamente, ele é ainda mais importante quando uma família de catadores de produtos recicláveis deixa de ter o seu filho na sala de aula para que ele ajude no trabalho. A pedagoga comunitária montou um projeto de reciclagem na escola para identificar as famílias que são catadoras e junto com toda a escola realizar um processo de reciclagem e acumulo de material reciclado, para que, dessa maneira, a criança ou jovem que estava na rua trabalhando, possa ir para a escola sem prejudicar o orçamento no final do mês.

Tão simples quanto lógico, a professora envolveu toda a comunidade escolar para arrecadar materiais reciclados que ela reverte em renda e divide entre as famílias que foram identificadas, classificadas e cadastradas com essa ocupação.

Aposto que algumas perguntas ressoem nesse momento: as outras famílias não querem também o dinheiro? Não possuem também o direito de ter uma parte no final do mês? A pedagoga comunitária conta que desde o começo do projeto é esclarecido que o importante não é o dinheiro, mas sim os filhos dessas famílias terem o direito de estudar.

Hoje, o projeto continua e agregou também a comunidade local. Em relação à conscientização sobre o lixo, ele é parte integrante do PPP (Projeto, político pedagógico) da escola, o que possibilita uma ligação direta entre a prática e a teoria.
Como forma de continuação do trabalho dos Pedagogos Comunitários surgem novas demandas e com isso novos braços de atuação por meio dos projetos SuperEscola e Acontecendo Leitura na Praça, dois projetos que visam ainda mais a comunidade local em interação com as políticas publicas de atendimentos dos diferentes setores.

O SuperEscola é uma parceria da Secretaria de Educação e da Secretaria de Cidadania. O projeto utiliza os espaços esportivos das escolas e os que foram construídos no ano de 2007 para os jogos regionais com o objetivo de oferecer a possibilidade, no período oposto ao da escola, atividades esportivas para os alunos.
Esse projeto visa uma futura geração de atletas e também uma qualidade de vida melhor para crianças e familiares.

Acontecendo Leitura na Praça é um projeto de estimulo a leitura a partir da identificação da falta desse habito nas crianças e jovens e também nos pais. Este evento público acontece a cada sábado em uma praça diferente, o que o torna itinerante, proporcionando assim a proximidade com livros e leitura. São realizadas durante as atividades leitura de contos, a utilização de materiais lúdicos, como fantasia e brinquedos, além de atividades com teatro e música.

A proposta de 2008 para o projeto é ter um único foco: Projeto Notas, que propõe a diminuição da retenção e o aumento do desempenho escolar. Os pedagogos comunitários utilizarão os potenciais educativos da comunidade local.
No segundo semestre de 2007, uma portaria reconheceu o Pedagogo Comunitário como um cargo, com direito a plano de carreira e que faz parte integrante de cada escola.

Diferente do processo inicial de eleição, para ser efetivado o Pedagogo deve apresentar um projeto de intervenção social junto à escola, que passa por uma análise e reconhecimento de uma banca formada por técnicos e dirigentes de educação. Além de apresentar o projeto, o educador deve ser funcionário público aprovado em concurso, realizar uma entrevista e prova.