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30/08/2007
Ricos gastam com planos de saúde; pobres, com remédios

Para IBGE, dado mostra que ricos buscam prevenção e pobres precisam remediar

Do total gasto pelas famílias mais ricas com saúde, 35% são com planos privados; 43% da despesa das mais pobres vai para remédios

 

Na hora de cuidar de sua própria saúde, os brasileiros mais ricos destinam a maior parte de seu orçamento para pagar planos privados, enquanto o que mais pesa no bolso dos mais pobres é a compra de remédios.

Na análise dos técnicos que fizeram a pesquisa do IBGE, isso mostra que há um padrão bastante distinto de atenção à saúde em cada grupo. Entre os ricos, os gastos são principalmente em prevenção. Entre os mais pobres, o pouco que sobra do orçamento familiar é destinado sobretudo a remediar.

Dentro das despesas de saúde, o principal gasto das famílias que estão entre as 10% mais ricas é com plano de saúde (35% do total). Entre os 40% mais pobres, esse mesmo percentual não passa de 4,3%.

Por outro lado, essas famílias de menor renda acabam gastando muito mais, proporcionalmente ao seu orçamento, com remédios. Segundo a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), 43% das despesas em saúde vão para remédios entre os 40% mais pobres, enquanto entre os 10% mais ricos esse percentual fica em 24%.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores do IBGE foi a discrepância nos gastos com hospitalização: apenas 1,9% dos gastos com saúde entre os ricos e 8% entre os mais pobres.

Para fazer as comparações acima, o IBGE estimou qual seria o gasto das famílias caso tivessem de pagar pelo atendimento público de saúde ou quando foram atendidas ou receberam remédios por doação. Essa estimativa é importante na análise porque as famílias mais pobres tendem a procurar mais o setor público, já que as de maior renda têm acesso ao setor privado.

No caso das famílias mais ricas, 87% das despesas com saúde são independentes do serviço público. Entre as mais pobres, esse índice é de apenas 44%, o que indica que as despesas públicas ou provenientes de doações bancam mais da metade do gasto dessas famílias.

Para o total da população, essa relação é de 68% de despesas próprias e 32% pagas pelo setor público ou por doações.

Serviços preventivos
Na avaliação da socióloga Lilibeth Ferreira, do IBGE, as diferenças no perfil do consumo dos serviços e produtos de saúde evidenciam uma desigualdade que acaba tendo reflexo na qualidade de vida.

"Essa população mais pobre quase não tem acesso a planos de saúde e acaba gastando muito de sua renda com remédios. Isso indica que ela adoece mais por falta de acesso a consultas preventivas e pode estar se automedicando com mais freqüência", diz a socióloga.

Para Jorge Curi, presidente da Associação Paulista de Medicina e diretor da Associação Médica Brasileira, os dados do IBGE sugerem também uma dificuldade de acesso da população mais pobre aos serviços públicos preventivos. "Esse brasileiro mais pobre tem mais dificuldade de acesso a exames ou a consultas especializadas. Por isso, acaba procurando o pronto-socorro quando tem que resolver um problema."
Curi reforça também que o principal foco das políticas públicas em saúde deve estar na prevenção. Ele lembra que as doenças que mais matam hoje no mundo -como as cardiovasculares- podem ser evitadas com a mudança de hábitos alimentares e com a realização de atividades físicas.

Folha de S.Paulo.