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desenvolvimento
05/10/2004

Iniciativa internacional apóia pesquisas de doenças que atingem países pobres

Enfermidades como malária, mal de Chagas, leishmaniose e doença do sono afetam milhões de pessoas em todo mundo. A malária, por exemplo, atinge anualmente cerca de 250 milhões de pessoas, sendo responsável por mais de um milhão de óbitos, principalmente de crianças em países tropicais.

No Brasil, são mais de 200 mil casos por ano, concentrados principalmente na Região Amazônica, onde a doença é considerada endêmica. Dados da organização sem fins lucrativos Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi – ou Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas), revelam que a malária mata mais gente hoje do que matava há 40 anos. Embora existam alguns medicamentos para combater a doença, em algumas regiões do planeta o parasita já criou resistência ao tratamento. Muitas crianças africanas pegam malária várias vezes por ano, o que prejudica seu desenvolvimento.

A leishmaniose, por sua vez, é considerada doença endêmica em 88 países. Estima-se que 12 milhões de pessoas sejam afetadas pela enfermidade e que surjam entre 1,5 e 2 milhões novos casos anualmente. Já a doença do Sono, que atinge 36 países da África sub-Sahariana (principalmente a República Democrática do Congo, Angola e Uganda), coloca 60 milhões de pessoas em risco. A doença estava relativamente controlada nos anos 60, mas devido a guerras e à decadência econômica voltou a ameaçar esses países. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam 300 mil casos da doença, embora admita a possibilidade de subnotificação.

E a doença de Chagas, considerada a enfermidade mais negligenciada no Brasil, atinge 21 países das Américas do Sul e Central. Estima-se que 100 milhões de pessoas – ou um quarto da população da região - corram risco de contrair a doença, que provoca 50 mil mortes por ano. Embora 18 milhões de pessoas devam estar vivendo com o parasita em seus corpos, existem apenas dois medicamentos disponíveis para o tratamento da doença.

Se os números são alarmantes, mais assustador é saber que o tratamento dessas doenças não é prioritário. Pouquíssimas são as pesquisas para desenvolver novos medicamentos. As indústrias farmacêuticas – que atualmente são as principais produtoras de estudos área da saúde – investem pouco nessas doenças. E o motivo é simples: falta de interesse econômico.

Todas essas enfermidades "negligenciadas" são características de regiões pobres. E Christina Zackiewicz, assessora da América Latina para a DNDi, explica que as indústrias farmacêuticas estão pautadas pela lógica capitalista, investindo apenas em pesquisas cujo retorno financeiro é certo. Os governos que deveriam incentivar a pesquisa nessa área em seus laboratórios, criando políticas públicas adequadas ainda não assumiram o compromisso de forma adequada.

Para tentar reverter esse quadro, em julho do ano passado, foi criado o DNDi. A iniciativa surgiu a partir de um grupo de trabalho sobre medicamentos para doenças negligenciadas da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). E hoje agrupa institutos de pesquisa de diversos países - Instituto Pasteur, da França; Fundação Osvaldo Cruz, no Brasil; o Instituto de Pesquisa Médica do Quênia; o Conselho Indiano de Pesquisa Médica, o Ministério da Saúde da Malásia e o departamento de pesquisa sobre doenças tropicais da Organização Mundial de Saúde – em torno do esforço de desenvolver pesquisas sobre medicamentos para essas doenças negligenciadas.

Christina conta que existem pesquisas sendo desenvolvidas nas bancadas dos laboratórios das universidades e outros institutos de pesquisa, mas que entre descobrir uma molécula potencial e produzir um medicamento que possa ser distribuído à população há um longo processo que requer dinheiro e tempo (entre 5 e 12 anos). O processo, então, fica travado por falta de recursos, impedindo a formulação de novos remédios.

A DNDi se propõe justamente a alavancar esse processo, identificando projetos já existentes e levando-os adiante, quando viáveis. Para isso, a entidade mantém parcerias com algumas indústrias públicas e pretende ampliá-las com a iniciativa privada. Os recursos da DNDi são provenientes principalmente de doações da União Européia, da MSF e de outros doadores.

Primeiros resultados
Em seu primeiro ano de atuação, a DNDi comemora um trabalho desenvolvido no Brasil, pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). O laboratório combinou dois antimaláricos em um só medicamento, conseguindo quebrar a fácil resistência que o parasita desenvolvia frente a antimaláricos isolados. As organizações vinculadas à DNDi também estão desenvolvendo outros sete projetos de medicamentos contra a doença do sono e a leishmaniose, mas os estudos ainda não estão concluídos.

Os medicamentos produzidos na Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) não devem ser patenteados e sim considerados de "domínio público". Christina explica que a patente dos medicamentos pode gerar remédios com um custo tão alto que a distribuição às populações de baixa renda fica inviável. Isso porque apenas a indústria que detém a patente produz o medicamento, colocando-o no mercado ao preço que quiser. Mesmo sem a competitividade, o preço do remédio patenteado permanece alto. A representante do DNDi diz que os remédios produzidos pela organização só serão patenteados quando suas fórmulas correrem o risco de serem "roubadas".

LAURA GIANNECCHINI
do site Setor3

   
 
 
 

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