Depois
de fundir dois ministérios e uma secretaria para criar
o Ministério do Desenvolvimento Social, o governo agora
tem dúvidas sobre os rumos do programa Fome Zero -a
principal grife do governo de Luiz Inácio Lula da Silva
no setor. A estrutura do programa foi criticada pelo ministro
Patrus Ananias.
Durante o fim de semana, Patrus (Desenvolvimento Social)
reuniu-se em Brasília com cerca de 20 assessores, entre
eles quatro consultores de fora do governo, para uma reunião
fechada de planejamento estratégico.
Ao abrir a reunião, Patrus criticou a espinha dorsal
do Fome Zero, que são os 2.132 comitês gestores,
criados nas cidades em que o programa foi implantado. O ministro
disse que muitos dos seus integrantes são despreparados
para o cargo. Os integrantes dos comitês não
são remunerados.
A principal função desses comitês, formados
majoritariamente por representantes da sociedade civil, é
fiscalizar o programa para assegurar que ele não seja
usado de forma eleitoreira.
Para o ex-ministro da Segurança Alimentar, José
Graziano, os comitês eram tão importantes que
sua existência era uma precondição para
a implantação do Fome Zero nas cidades. Sem
comitê, as famílias não começavam
a receber os R$ 50 mensais do programa.
Mudança
A assessoria de Patrus Ananias disse que as opiniões
do ministro sobre os comitês gestores precisam ser contextualizadas,
mas confirmou que ele apresentou uma proposta de mudar a composição
dos comitês.
Hoje, dois terços dos integrantes dos comitês
são compostos por representante da sociedade civil
organizada, como sindicatos, igrejas e associações
de bairro. A proposta do ministro do Desenvolvimento Social
é que a composição seja alterada para
assegurar aos representantes do poder público local
50% dos assentos.
Há pelo menos uma certeza na área social, um
dos principais calcanhares-de-aquiles do primeiro ano de governo:
o Palácio do Planalto está preocupado com o
ritmo, ainda lento, que vem sendo demonstrado pela equipe
de Patrus Ananias.
Mensageira
Miriam Belchior, a subchefe de Monitoramento e Avaliação
da Casa Civil, cuja função é acompanhar
o andamento dos principais projetos do governo, participou
da reunião do ministério, a pedido do ministro,
e deu o recado do Palácio Planalto. Belchior disse,
segundo relato de participantes, que o "principal ativo"
do ministério é o Bolsa-Família- o programa
unificado de transferência de renda do governo federal.
Isso quer dizer duas coisas: a primeira que Patrus terá
que expandir o programa e, para isso, terá que convencer
os governadores-que vêm resistindo- a trabalhar em parceria
com o Planalto; a segunda é que o Fome Zero, ao perder
o posto de "carro-chefe" da área social,
tende a se tornar mais uma grife do que necessariamente uma
ação de governo.
A importância do Bolsa-Família (fruto da união
do Bolsa-Escola, do Vale-Gás, do Cartão-Alimentação
e do Bolsa-Alimentação) aumentou quando Lula
prometeu transformá-lo no "maior programa social
da face da terra", no dia 26 passado, em Belém.
O orçamento atual do Bolsa-Família é
de R$ 5,3 bilhões, mas, com as promessas de atendimento
feitas por Lula, o programa precisará de mais recursos.
GABRIELA ATHIAS
da Folha de S. Paulo, da sucursal de Brasília
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