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progresso
10 /05/2004
País avança no combate à pobreza

O Brasil será capaz de cumprir mais de uma das oito grandes Metas do Milênio, que os 189 países-membros das Nações Unidas prometeram perseguir até 2015. Mas pode deixar a desejar noutra série de indicadores também importantes para medir o avanço nas condições de vida de sua população. É o caso da erradicação da pobreza e da fome. Entre 1990 e 2001, segundo dados oficiais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país conseguiu reduzir a proporção de pobres de 43,8% para 33,5% e a de miseráveis, de 21,4% para 14,6%. Não é impossível para o governo derrubar esses números à metade dos registrados 14 anos atrás. Entretanto, será difícil diminuir em intensidade semelhante a desigualdade de renda, outra mazela relacionada pela ONU como inimiga do desenvolvimento humano.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) selecionou um grupo de indicadores afinados com as Metas do Milênio e eficazes como termômetro dos avanços sociais. O IBGE, assim como o Ipea, integra a equipe encarregada de acompanhar o cumprimento das metas, sob o comando da Casa Civil. Além da óbvia proporção de pobres e indigentes, a ONU apontou como indicadores relacionados o percentual de crianças com menos de 5 anos de idade desnutridas e a participação dos 20% mais pobres no consumo nacional.

Baixo crescimento
O IBGE, explica Ana Lúcia Sabóia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais do instituto, optou por usar a renda como parâmetro, em razão das dificuldades de apuração dos dados sobre consumo. Entre 1992 e 2002, a proporção da renda nacional nas mãos dos 20% mais pobres aumentou de 2,8% para 3,4%.

"Supondo a continuidade da tendência, esse indicador revela que a meta será difícil de ser atingida. Outra evidência da dificuldade pode ser verificada com o Índice de Gini, que praticamente se manteve no patamar de 0,56 no período. Isso mostra que a questão da desigualdade não avançou", diz Ana Sabóia.

O baixo crescimento econômico do Brasil nos últimos anos torna ainda mais difícil cumprir a meta de reduzir a desigualdade. Dois estudos recentes sobre as Metas do Milênio, um do Banco Mundial e outro do Fórum Econômico Mundial, entidade que promove anualmente o encontro de líderes políticos e empresariais em Davos, na Suíça, mostram que a América Latina foi um das regiões que menos avançou no combate à pobreza e à desigualdade de renda, devido, principalmente, a seu fraco desempenho econômico.

O Banco Mundial estima que a meta global de redução da pobreza pela metade será alcançada graças, basicamente, ao bom desempenho da China. O sul da Ásia, alavancado pela populosa Índia, a Europa Central, o Oriente Médio e o Norte da África também vão bem. “Mas a redução da pobreza está ocorrendo mais lentamente na América Latina e no Caribe, região que não alcançará a meta a não ser que haja um salto no crescimento econômico”, afirma o Banco Mundial.

Nem mesmo o aumento dos investimentos em programas sociais será capaz de compensar a falta de crescimento econômico. O estudo do Fórum Econômico lembra que, na América Latina, os gastos sociais cresceram de 10% do PIB em 1990 para 14% do PIB em 2001, com os recursos sendo alocados, na avaliação do Fórum, em programas de maior impacto na redistribuição de renda. O estudo cita como exemplo o Bolsa Família, do governo brasileiro. Mas o Fórum lembra que a América Latina cresceu pífio 0,3% em 2001 e teve queda de 0,7% no seu PIB em 2002.

“A falta de crescimento econômico em alguns países e o advento de crises em outros fizeram com que a pobreza ficasse praticamente inalterada desde 1997”, diz o texto.

Os elogios do Fórum Econômico aos programas sociais do Brasil, além do Bolsa Família, o Fome Zero é citado, vêm ao lado de uma dura crítica à desigualdade social do país: “O Brasil fez progressos substantivos nos anos recentes, mas a insegurança alimentar ainda é extremamente alta para um país com renda per capita anual de US$ 7.000”.

As perspectivas são boas no que diz respeito à educação e à saúde. O Brasil já assegurou o cumprimento da meta relacionada à igualdade de gêneros. Em 1992, o nível de escolaridade de homens e mulheres era praticamente idêntico no país, mostra o IBGE. Dez anos depois, as mulheres já apresentavam em média 6,2 anos de estudo e os homens, 5,9. Está próxima da igualdade também a proporção de homens e mulheres de 15 a 24 anos alfabetizados. E é crescente a proporção de mulheres empregadas no setor não-agrícola: de 40,7% em 92 para 43,5% em 2002. Segundo o IBGE, a participação chegaria a 2015 em 47,1%, se a tendência atual for mantida.

O Brasil também tem condições de cumprir as metas relacionadas à universalização do ensino básico entre crianças e jovens. De 1992 a 2001, a escolaridade média dos meninos e meninas de até 11 anos de idade aumentou em um ano. O total de anos de estudos, que estava em 3,1 anos em 2001, pode chegar a quatro anos em 2015, caracterizando a conclusão do primário pelas crianças brasileiras.

Ainda assim, segundo as estatísticas do Bird, a taxa de conclusão do ensino primário é de 82% no Brasil. Na América Latina, só fica à frente de Guatemala, Honduras, Nicarágua e Venezuela nesse quesito.

FLÁVIA OLIVEIRA
LUCIANA RODRIGUES
do jornal O Globo

   
 
 
 

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