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O
psiquiatra e neurologista Viktor Frankl é autor do
livro "Em busca de Sentido", no qual retrata
suas experiências como um detento de um campo de concentração
e descreve seu método psicoterapêutico de como
encontrar uma razão para viver.
Leia
trechos do livro "Em busca de Sentido"
Mais:
Psiquiatra de NY cria terapia
que busca significados para a vida
Programa ajuda paciente a enfrentar câncer terminal
Quando Midge Wilker recebeu o diagnóstico de câncer
de cólon avançado, em meados do ano passado,
ela não conseguia ir a uma consulta médica sem
chorar. A ex-executiva da IBM, que havia aberto sua própria
empresa de treinamento gerencial, sentia enjoos e pavor. Os
médicos disseram que o câncer havia se espalhado
para os ovários, os nódulos linfáticos
e possivelmente o fígado. Ela não abriu as persianas
de seu apartamento durante semanas.
"Todo mundo ao meu redor me falava o quanto é
importante ter uma atitude positiva", diz Wilker, de
64 anos. "Mas não sou Lance Armstrong. Eu queria
pular na cova."
Um dia, enquanto fazia quimioterapia no Memorial Sloan-Kettering
Cancer Center (MSKCC), em Nova York, Wilker aceitou participar
de uma pesquisa que comparava duas diferentes formas de terapia
de apoio em grupo. Perguntada sobre o que esperava ganhar
com a participação na pesquisa, ela respondeu:
"Preciso achar coragem para enfrentar isso".
O programa inovador ao qual ela foi aleatoriamente designada
tem o objetivo de fazer isso e mais - ajudar pacientes de
câncer a encontrar significado, paz e metas de vida,
mesmo quando o fim se aproxima. "Para muitos pacientes
de câncer, o maior desafio é: 'Como viver no
espaço de tempo entre meu diagnóstico e a morte?'",
diz William Breitbart, psiquiatra do MSKCC que desenvolveu
o programa, conhecido como psicoterapia centrada em significado,
que foi testada em mais de 300 pacientes desde 2000.
Breitbart baseou seu programa nos textos de Victor Frankl,
um psiquiatra austríaco que sobreviveu ao campo de
concentração de Auschwitz, na Polônia,
com a convicção de que as pessoas podem suportar
o sofrimento se souberem que suas vidas têm sentido.
"Ajudamos os pacientes de câncer a entender que
eles ainda não estão mortos", diz Breitbart.
"Os meses ou anos de vida que restam são tempos
potencialmente extraordinários de crescimento e significado."
A maioria dos centros de câncer oferece grupos de apoio
e aconselhamento individual aos pacientes. O campo da "psico-oncologia"
- que procura cuidar dos aspectos psicológicos, espirituais
e emocionais do câncer - está em franca expansão
ao redor do mundo. O foco no significado da vida é
a originalidade do projeto e ainda está em fase de
pesquisa no MSKCC. Mas os primeiros resultados são
encorajadores. Num estudo piloto com 90 pacientes apresentado
no encontro da Sociedade Internacional de Psico-oncologia,
em Viena, no mês passado, Breitbart e seus colegas concluíram
que a terapia de grupo centrada em significado aumentou consideravelmente
o bem-estar espiritual dos pacientes e reduziu sua ansiedade
e desejo de morrer, em comparação com grupos
tradicionais de suporte a cancerosos. A melhora continuou
até dois meses depois do fim das sessões.
O programa é dividido em oito sessões semanais;
os grupos têm de seis a oito pacientes e dois facilitadores.
Embora haja discussões e exercícios em grupo,
os pacientes têm de descobrir o que é importante
na vida deles por conta própria. "É realmente
uma questão de estar lá o tempo todo - só
os ajudamos a encontrar o que estava perdido", diz Shannon
Poppito, uma psicóloga clínica que ajudou a
coordenar as sessões.
Em setembro, Wilker estava sofrendo demais com a quimioterapia
para participar da primeira sessão, na qual os participantes
foram apresentados à equipe e receberam o livro de
Frankl, "Em busca de sentido", sobre seus anos nos
campos de concentração nazista.
A segunda sessão concentrou-se em identidades "BC",
as iniciais em inglês para antes do câncer, e
"AD", de depois do diagnóstico. Wilker chegou
vestindo um abrigo esportivo, sem maquiagem, sem saber se
voltaria.
"De uma maneira profunda, eles nos fizeram pensar a respeito
do nosso passado e do que o câncer nos tirou",
relembra. "Para mim, foi tudo. Eu estava me transformando
numa pessoa que eu mesma não reconhecia mais."
Boa parte dos outros membros do grupo havia sido diagnosticada
com câncer anos atrás e estava lidando com o
retorno da doença. Elas conversavam sobre paixão
por teatro, andar de bicicleta e encontrar formas de continuar
a desfrutar do que gostavam. "Pensei: 'Estou vendo tanta
coragem aqui. Tenho que me recompor'", relembra Wilker.
As sessões três e quatro foram dedicadas a fontes
históricas de significado - como a vida é um
legado vivo do passado para o presente e o futuro. Os membros
do grupo foram solicitados a refletir sobre suas famílias,
o período histórico em que cresceram - até
mesmo a origem de seus nomes.
Wilker se lembrou de momentos em que havia sido corajosa.
Ela driblou a hierarquia da IBM para dar uma nota alta a um
subordinado recém-promovido e confrontou o comandante
de uma base militar em que trabalhava. Ela exigiu uma promoção
e a conseguiu. "Se o que você procura é
coragem, ajuda reconhecer que você fez algumas coisas
corajosas no passado", diz.
A quinta sessão tratou das limitações
de vida e da mensagem de Frankl de que, mesmo que tudo tenha
sido tirado de alguém, esse alguém ainda pode
escolher que atitude tomar diante de uma situação
e que significado atribuir a ela. Entre as questões
discutidas estavam: como você quer ser lembrado e o
que seria uma morte com significado?
Mesmo para pacientes com câncer avançado, nunca
é tarde demais, diz Breitbart, que nota como no livro
"A morte de Ivan Ilyich", de Leon Tolstói,
o personagem principal torna-se a pessoa que queria ser e
se reconecta com seu filho nos últimos cinco minutos
de vida.
As outras duas sessões focaram as formas de como transcender
as limitações impostas pelo câncer. "Você
não está morrendo de câncer - está
vivendo com câncer até morrer", diz Poppito.
Simplesmente viver a vida pode ter bastante significado. Na
sétima sessão, os pacientes fizeram listas de
coisas que amavam ou consideravam bonitas ou divertidas. Wilker
falou sobre o marido, seus 28 sobrinhos e 62 sobrinhos-netos,
a espetacular vista de seu apartamento, que voltou a desfrutar,
e a estátua da Vitória Alada, esculpida 300
anos antes de Cristo e exposta no Museu do Louvre. "Descobri
que não tinha que trabalhar tão duro para encontrar
o significado da vida", diz.
"Estava ao alcance da minha mão em qualquer lugar
que eu olhasse."
Na sessão final, os membros do grupo apresentam um
"projeto de legado" que simboliza o significado
que encontraram e querem passar adiante. Uma mulher que amava
Nova York começou a escrever um livro sobre as atrações
e os sons da cidade. Outra que sempre quis ir à Itália
decidiu fazer a viagem, apesar do calendário de quimioterapia.
Wilker decidiu que seu projeto seria "ser a pessoa corajosa
que minha família e amigos acham que sou". Ela
chegou à última sessão vestida a rigor
e carregando uma réplica da Vitória Alada e
uma foto da reunião de 50 anos da escola da qual ela
participou após conseguir se encher de coragem.
Não é mais difícil abrir mão da
vida quando você tem uma nova apreciação
de seu sentido? "É paradoxal", diz Poppito.
"Mas se você mostra às pessoas que a vida
delas tem importância e vai continuar a importar depois,
(...) lhes dá uma sensação de paz".
Melinda Beck, The Wall Street Journal
Publicada no jornal Valor Econômico
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