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Certificadora brasileira permite uso de resíduo industrial como fertilizante
Orgânico brasileiro pode não ser tão natural assim
DA REDAÇÃO
Quem compra alimentos orgânicos
no Brasil achando que está livre de
consumir agrotóxicos deve ficar atento, mesmo que o produto tenha o selo
de uma entidade certificadora. Pelo
menos uma delas, a AAO (Associação de Agricultura Orgânica), admite
que seus produtores utilizem
um fertilizante feito a partir
de resíduos industriais.
"No cultivo de café, permitimos a utilização do Ajifer,
mas em pequena escala", diz
Alessandra Toledo, coordenadora técnica de inspeção e
certificação da AAO.
O Ajifer é um subproduto
da fabricação do glutamato
monossódico Ajinomoto.
Alessandra admite que o uso
do fertilizante impede que o
selo da AAO seja aceito na
União Européia e nos EUA.
Das sete certificadoras brasileiras ouvidas pela Folha, só
a AAO permite seu uso.
"Já alertamos a AAO sobre
o fato de que o Ajifer não deve ser usado em agricultura orgânica", diz Alexandre Harkaly, vice-presidente do IBD (Instituto Biodinâmico), uma das certificadoras que proíbem sua utilização.
O IBD tem 2.700 produtores certificados e é credenciado pela Ifoam (Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica, na sigla
em inglês), o que permite que seus
produtos sejam aceitos na União Européia, nos EUA e no Japão.
Segundo Douglas Harada, coordenador da certificadora Fundação Mokiti Okada, o Ajifer tem uma grande
quantidade de nitrogênio amoniacal.
"Proibimos por causa da alta solubilidade do nitrogênio."
Segundo a assessoria de imprensa
da AAO, que tem 400 produtores certificados ou em processo de certificação, a organização procura oferecer
alternativas ao produtor. "Só permitimos o uso de Ajifer por aqueles que
comprovem a necessidade de usá-lo
e, mesmo assim, de forma bastante limitada. O uso deve se restringir a
1.500 litros por hectare por ano", diz
Isabel Garcia, assessora de imprensa
da entidade. "Essa permissão será revista na terceira versão das normas da
entidade, que está sendo elaborada."
O Ministério da Agricultura deve
lançar um selo nacional de orgânicos.
Para isso, criou o Colegiado Nacional
de Produtos Orgânicos em 99 e está
implantando colegiados regionais para avaliar e instrumentalizar entidades que queiram ser certificadas.
Marcelo Laurino, coordenador do
Órgão Colegiado de Agricultura Orgânica do Estado de São Paulo, diz
que a questão de o Ajifer ser ou não
um fertilizante químico é discutível.
"Não há nenhuma restrição específica ao Ajifer na instrução normativa
nº 007 (de 1999), que rege a produção
de orgânicos, mas ela tem de ser revista para estar de acordo com as normas internacionais. O Codex Alimentaris [da FAO (Organização de Alimentação e Agricultura da ONU, na
sigla em inglês)" não permite a utilização do fertilizante", diz.
Produção baixa
No Brasil, os registros oficiais de
produção agrícola não diferenciam
alimentos orgânicos de convencionais. Segundo um estudo publicado
neste ano pela Ifoam, a área cultivada
com orgânicos no Brasil é de 100 mil
hectares, ou 0,04% da área total.
A produção está longe da de países
como Argentina (3 milhões de hectares, ou 1,77% da área total cultivada,
segundo o estudo), Itália (958.687
hectares, ou 6,46%), EUA (900.000
hectares, ou 0,22%) ou Alemanha
(452.279 hectares, ou 2,64%).
Segundo Harkaly, do IBD, o principal motivo da diferença é a falta de incentivos oficiais. "As instituições de
desenvolvimento da agricultura estão
completamente alienadas da vontade
do consumidor. Não se financia o período de conversão", diz.
Um dos requisitos para a certificação é um período de conversão, de até
três anos, para "limpar" resíduos de
agrotóxicos. Quem arca com os custos é o produtor, já que linhas de crédito preferencial, como o Pronaf, do
Banco do Brasil, exigem que o produtor seja certificado. "As regras de crédito são ditadas por normas do Banco
Central, que não tem nada a ver com
o ministério, mas já estamos discutindo com o Banco do Brasil incentivos
para o período de transição", diz Rogério Dias, coordenador do Colegiado Nacional de Produtos Orgânicos.
O Ministério do Desenvolvimento
Agrário, porém, estimula a produção
orgânica entre os agricultores familiares e assentados da reforma agrária: R$ 25 milhões serão direcionados
neste ano para esse tipo de cultivo.
Mesmo com uma produção baixa, o
mercado de orgânicos no Brasil está
crescendo. Segundo estimativas do
Serviço Internacional do Departamento de Agricultura dos EUA, o setor teve um crescimento acumulado
de 20% entre 1998 e 2000, quando
movimentou US$ 150 milhões.
Em um ano, as vendas de orgânicos
cresceram 30% no supermercado Pão
de Açúcar. Segundo o Carrefour, o
segmento cresceu mais de 50% no
mesmo período.
(MARIA BRANT)
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