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Gado do futuro terá RG digital
SEBASTIÃO NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Está próximo o dia em que o
consumidor brasileiro, ao comprar um quilo de carne no supermercado, poderá saber até o que o
boi comeu na fazenda.
Em São Paulo, um supermercado já trabalha com carne qualificada nos frigoríficos pelos técnicos do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento de Pesquisa Pecuária). ""Checamos o desembarque da carne em 40 frigoríficos,
acompanhamos o abate, o processo de desossa, a estocagem, e
só depois a qualificamos como
apta ao consumo, fornecendo um
selo de qualidade", diz João Gilberto Bento, diretor do Fundepec.
A próxima etapa, afirma ele, será a certificação da carne por meio
de um monitoramento efetuado
nas próprias fazendas.
""O rastreamento, em tempos de
vaca louca e de febre aftosa, é uma
questão de necessidade", afirma
Rômulo Kardec de Camargos,
presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ),
sediada em Uberaba (MG).
Para Pedro Eduardo de Felício,
professor de ciência e tecnologia
de carnes da Unicamp, ""a rastreabilidade é a maneira que os europeus encontraram para levar mais
informações e segurança ao consumidor acerca do alimento".
Apesar dessas técnicas de aprimoramento, o Brasil convive ainda com a matança clandestina do
boi. De um total de 32 milhões de
cabeças abatidas ao ano, pelo menos 30% não levam nenhum carimbo da inspeção federal. No total, o país possui 162 milhões de
cabeças de gado, e cerca de 95%
dos 6 milhões de toneladas de carne produzidas por ano são consumidas pelos próprios brasileiros.
Certificação por animal
Enquanto doenças como a febre
aftosa grassam no Nordeste (o
mal está praticamente erradicado
somente em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), a
ABCZ quer dar um passo além da
rastreabilidade do rebanho e implantar a certificação por animal.
Segundo José Antonio Josahkian, técnico da ABCZ, em cada
rebanho, o animal teria um código que o individualizaria. A identificação seria feita por dois brincos, que conteriam todas as características dos animais. ""Seria uma
espécie de chip. Pelo computador,
o fazendeiro poderia acessar as
informações."
Toda a história de um determinado animal estaria nos brincos.
""Além da raça, da origem, da idade, poderíamos saber qual o manejo nutricional e sanitário." As
informações devem chegar ao
consumidor em etiquetas.
Josahkian reconhece que o tamanho do rebanho bovino do
país e suas dimensões são obstáculos que impedem a implantação rápida do sistema.
Carne orgânica
A próxima etapa na modernização do setor é a chegada da carne
orgânica aos supermercados,
adianta João Gilberto Bento, do
Fundepec. ""É tendência de um futuro um pouco distante. Somente
as fazendas teriam um mínimo de
dois anos para a adaptação", diz.
Nesse período, a propriedade
teria de usar ração de uma fazenda já certificada como orgânica
para alimentar o seu gado. Para
obter a certificação de carne orgânica o criador não poderia usar
remédios, hormônios, vacina ou
agrotóxicos nas pastagens.
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