São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001


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Gado do futuro terá RG digital

SEBASTIÃO NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Está próximo o dia em que o consumidor brasileiro, ao comprar um quilo de carne no supermercado, poderá saber até o que o boi comeu na fazenda.
Em São Paulo, um supermercado já trabalha com carne qualificada nos frigoríficos pelos técnicos do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento de Pesquisa Pecuária). ""Checamos o desembarque da carne em 40 frigoríficos, acompanhamos o abate, o processo de desossa, a estocagem, e só depois a qualificamos como apta ao consumo, fornecendo um selo de qualidade", diz João Gilberto Bento, diretor do Fundepec.
A próxima etapa, afirma ele, será a certificação da carne por meio de um monitoramento efetuado nas próprias fazendas.
""O rastreamento, em tempos de vaca louca e de febre aftosa, é uma questão de necessidade", afirma Rômulo Kardec de Camargos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), sediada em Uberaba (MG).
Para Pedro Eduardo de Felício, professor de ciência e tecnologia de carnes da Unicamp, ""a rastreabilidade é a maneira que os europeus encontraram para levar mais informações e segurança ao consumidor acerca do alimento".
Apesar dessas técnicas de aprimoramento, o Brasil convive ainda com a matança clandestina do boi. De um total de 32 milhões de cabeças abatidas ao ano, pelo menos 30% não levam nenhum carimbo da inspeção federal. No total, o país possui 162 milhões de cabeças de gado, e cerca de 95% dos 6 milhões de toneladas de carne produzidas por ano são consumidas pelos próprios brasileiros.

Certificação por animal
Enquanto doenças como a febre aftosa grassam no Nordeste (o mal está praticamente erradicado somente em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), a ABCZ quer dar um passo além da rastreabilidade do rebanho e implantar a certificação por animal.
Segundo José Antonio Josahkian, técnico da ABCZ, em cada rebanho, o animal teria um código que o individualizaria. A identificação seria feita por dois brincos, que conteriam todas as características dos animais. ""Seria uma espécie de chip. Pelo computador, o fazendeiro poderia acessar as informações."
Toda a história de um determinado animal estaria nos brincos. ""Além da raça, da origem, da idade, poderíamos saber qual o manejo nutricional e sanitário." As informações devem chegar ao consumidor em etiquetas.
Josahkian reconhece que o tamanho do rebanho bovino do país e suas dimensões são obstáculos que impedem a implantação rápida do sistema.

Carne orgânica
A próxima etapa na modernização do setor é a chegada da carne orgânica aos supermercados, adianta João Gilberto Bento, do Fundepec. ""É tendência de um futuro um pouco distante. Somente as fazendas teriam um mínimo de dois anos para a adaptação", diz.
Nesse período, a propriedade teria de usar ração de uma fazenda já certificada como orgânica para alimentar o seu gado. Para obter a certificação de carne orgânica o criador não poderia usar remédios, hormônios, vacina ou agrotóxicos nas pastagens.


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