Livraria da Folha

 
09/10/2010 - 13h10

Platão defende Sócrates das acusações de corrupção da juventude

da Livraria da Folha

Em 399 a.C., Atenas presenciou o julgamento e a execução de Sócrates, que, apesar de ser o nome mais conhecido da história da filosofia, nunca escreveu um só livro. O sábio foi condenado à morte por envenenamento sob a acusação de corromper os jovens com ideias subversivas.

Reprodução
Julgamento de Sócrates até hoje inspira artistas e filósofos
Julgamento de Sócrates até hoje inspira artistas e filósofos

Não menos famoso, Platão (427-347 a.C.), seu discípulo direto, compôs o diálogo "Apologia de Sócrates" para defender a memória do filósofo. Segundo ele, um homem íntegro que vivia em busca do conhecimento.

Após a morte do mestre, sua decepção com os cidadãos atenienses fez com que deixasse a cidade por aproximadamente 12 anos, retornando para fundar a Academia, escola onde ensinou Aristóteles (384-322 a.C.).

O clássico da filosofia antiga apresenta o pensamento do próprio autor e de Sócrates sobre a ética, o bem, a vida após a morte, o dualismo mente-corpo e a critica ao relativismo moral --uma arma importante e questionável para o sucesso político na Grécia da época. Temas abordados (e ainda não resolvidos) pela filosofia até hoje. Leia trecho do volume.

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Sócrates encontra-se por acaso com o adivinho Êutifron, dias antes de seu julgamento

ÊUTIFRON
Que novidade é essa, Sócrates, que você, deixando os passatempos no Liceu, agora passa o tempo aqui, nos arredores do pórtico do rei? Pois eu presumo não acontecer de você também ter uma causa junto ao rei, como eu...

SÓCRATES

Na realidade, Êutifron, os atenienses não a chamam de "causa", mas de "denúncia".

ÊUTIFRON
O que você está dizendo?! Pelo jeito alguém fez uma denúncia contra você, porque não vou lhe imputar isto - você ter denunciado outra pessoa!

SÓCRATES
Não, realmente.

ÊUTIFRON
Mas um outro a você sim?

SÓCRATES
Isso mesmo.

ÊUTIFRON
Quem é ele?

SÓCRATES
Eu próprio, Êutifron, não conheço muito bem o homem, pois me parece ser alguém jovem e desconhecido. Mas o chamam (penso eu) de Meleto. É do demo de Pitos, se é que lhe vem à mente algum Meleto de Pitos, assim, de cabelo liso e não com muita barba - e nariz adunco...

ÊUTIFRON
Não me vem, Sócrates. Mas então, qual a denúncia que ele fez contra você?

SÓCRATES
Qual? Uma nada desprezível, me parece; pois entender de tamanho assunto quando ainda se é jovem não é coisa banal! Ele sabe, conforme diz, de que modo os jovens são corrompidos e quem são aqueles que os corrompem. Corre o risco de ser um sábio - e, por notar minha ignorância ao corromper os de sua idade, vem me acusar junto à cidade tal qual junto à mãe... E me parece ser o único, dos envolvidos com a política, a começar corretamente, pois é correto que Meleto milite primeiro pelos jovens, para que sejam os melhores possíveis, assim como se espera que o bom lavrador milite primeiro pelas plantas jovens, e só depois disso pelas outras também. Além do mais, talvez Meleto esteja "arrancando" a nós primeiro, que "corrompemos as germinações dos jovens", conforme diz; em seguida, depois disso, é claro que, militando pelos mais velhos, ele se tornará para a cidade culpado pelos maiores e mais numerosos bens - pelo menos é o que se espera que ocorra com quem teve um tal começo!

ÊUTIFRON

É o que eu gostaria, Sócrates, mas receio que aconteça o contrário. Pois me parece que ele simplesmente começa por prejudicar a cidade pela lareira ao tencionar fazer mal a você. Mas me diga: ele diz que você corrompe os jovens fazendo o quê?

SÓCRATES

Coisas estranhas, admirável homem, para se ouvir assim. Pois diz que sou fazedor de deuses e que, por isso mesmo - por fazer novos deuses e não crer nos antigos -, me denunciou, conforme diz.

*

"Apologia de Sócrates"
Autor: Platão
Editora: L&PM
Páginas: 144
Quanto: R$ 9,60 (preço promocional)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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