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São Paulo, sábado, 8 de janeiro de 2005

ENTREVISTA

O escritor e desenhista Ziraldo fala sobre seu menino mais famoso, que vai completar 25 anos

O pai maluquinho

GABRIELA ROMEU
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Ele tem fogo no rabo, vento nos pés, macaquinhos no sótão -e vai completar 25 anos. É o Menino Maluquinho, personagem criado em 1980 pelo escritor Ziraldo, dono da teoria de que criança feliz só pode virar um adulto legal. Várias gerações cresceram com as peripécias do Maluquinho, que já foi para o cinema, o teatro, a internet e a ópera. O livro vendeu 2,5 milhões de exemplares.
O pai do menino é sempre entusiasmado com as aventuras do Maluquinho. "É fantástico ler o Menino em catalão, quer ouvir?" E lá vai o escritor ler a história na língua da Catalunha, região da Espanha, onde é conhecida como "Cap de Pardals".
Para falar de um de seus filhos mais famosos, Ziraldo, 72, recebeu a Folhinha em seu estúdio, no Rio de Janeiro, três dias antes do Natal. De bermuda e camiseta, o mineiro pediu um "bocadinho" de tempo para mudar a roupa antes de fazer a foto. Voltou vestindo a camisa e o colete que são sua marca genuína.

Folhinha - Você foi muito influenciado por sua mãe ao entrar no mundo das letras, não?
Ziraldo -
Minha mãe me ensinou as letras. Eu as conhecia como pessoas vivas, mamãe dizia que o "a" era um sujeito de perna aberta, o "b" era um barrigudinho, o "c" era um comilão, o "d" era um pançudo, o "x" era um "h" de cinturinha apertada. Aprender a ler é a maior aventura da criança.
Folhinha - Você era um menino de zero de comportamento como o Menino Maluquinho?
Ziraldo -
Não, eu era muito agitado. Sempre fui um menino fazedor de coisas. O tempo que você gasta sonhando é o mesmo que gasta fazendo.
Folhinha - Você usa sempre a palavra menino. Até hoje, em Minas Gerais, criança é chamada de menino, não?
Ziraldo -
Isso. Meu avô tinha nove filhas e um filho. Ele dizia: "Os menino lá de casa é tudo muié, só tem um homem". E falava menino homem e menino mulher. Eu acho a palavra menino deslumbrante.
Folhinha - E agora o Menino Maluquinho faz 25 anos...
Ziraldo -
É, faz 25 anos em agosto. Esse livro me ocorreu quando fazia uma palestra para pais e mestres e falava de criar filhos. Eu tinha a tese de que filho não devia ser chateado, filho é o rei da casa e tem que ser feliz, pois só um menino feliz pode virar um cara legal. A idéia ficou na cabeça e fiz "O Menino Maluquinho".
Folhinha - Quando você desenhou o Maluquinho pela primeira vez, ele já tinha aquela cara?
Ziraldo -
Sim. Eu só sei desenhar menino assim, com essa cara redonda. Queria um livro interativo, em que a criança pudesse brincar, completar o desenho, pintar. Tem uma coisa engraçada, ele não tem panela na cabeça dentro do livro. Ela surgiu na hora de desenhar a capa, pois maluco é Napoleão, então desenhei um Napoleãozinho com a panela na cabeça.
Folhinha - A criança dos anos 80 é a mesma criança de hoje?
Ziraldo -
Claro que é. A criança está mais presa, mas tem o mundo na mão. Não tenho isso de "bom é no meu tempo". Meus netos têm uma vida mais fantástica do que a que tive. O Vicente, meu neto, dá notícia de todos os dinossauros. A Alice [outra neta" tem quase 200 livros de "Alice no País das Maravilhas", pois trago uma Alice sempre que viajo. Infância boa é a que se vive intensamente.
Folhinha - Quais serão as comemorações do Maluquinho?
Ziraldo -
A ópera do Menino Maluquinho vai percorrer o Brasil neste ano. A TVE vai exibir uma série do Menino Maluquinho. Vou fazer um livro com o Pedro Bandeira, outro com a Ruth Rocha e outro com a Ana Maria Machado. E tem os gibis.
Folhinha - E seus próximos livros?
Ziraldo -
Tenho uns livros bolados. Tem "O Último Menino", que eu não quero publicar com esse título, "O Menino das Cavernas" e "Os Meninos de Marte", que acho que é o que eu vou fazer. Vou fazer uma turminha de nove meninos, o menino de Marte, o de Vênus, o de Mercúrio...
Folhinha - Os meninos o perseguem.
Ziraldo -
É, meu tema é menino.

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