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São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

FICÇÃO

A MÁQUINA DOS SONHOS

O dr. Virgilius era um famoso cientista. Seu laboratório ficava à beira de um lago numa das mais importantes universidades americanas. Ratinhos, macacos, computadores e produtos químicos se misturavam na maior confusão.

Virgilius anunciava ao mundo sua grande descoberta.
-Uma máquina de produzir sonhos.
Era um pequeno aparelho que podia ser grudado no travesseiro.
-A partir de agora, cada pessoa poderá escolher o sonho que quer ter.
Testes com animais já tinham sido feitos.
-Nossa macaca mais inteligente sonhou que era professora de dança do ventre.
Uma empresa de travesseiros se interessou em comercializar o produto.
Foi feita uma grande campanha publicitária.
Nos primeiros dias, a Máquina dos Sonhos vendeu bem.
Depois, começaram as reclamações.
A menina Sally, de dez anos, quis sonhar que era a Barbie.
-Virei a Barbie. Quando quis fazer xixi, não tinha buraquinho para sair.
O pré-adolescente Roger, de treze anos, teve sérias decepções.
-Sonhei que era campeão do time de basquete. Mas quando eu pegava a taça, ela se transformava numa bola de gude. Nunca vi coisa mais absurda.
O garoto Lenny quis sonhar com o Peter Pan. Só que ele entrava no oco de uma árvore e não saía mais.
-Ridículo. Prefiro o filme.
Surgiram filas para devolver a máquina do dr. Virgilius. Nos supermercados, muita gente trocava o aparelho por fitas usadas de VHS.
-A qualidade das imagens é melhor e a história bem menos confusa.
Com tristeza, Virgilius pegou todo os aparelhos que ainda tinha em estoque e jogou-os no lago que ficava na frente do seu laboratório.
-Prejuízo total.
À meia-noite, coisas estranhas começaram a acontecer.
O lago parecia lançar jorros de água cor-de-rosa. Como o xixi da Barbie.
Todas as pedras em volta do lago iam se transformando em bolas de gude.
As velhas árvores ali perto voavam como Peter Pan.
Virgilius logo entendeu tudo.
-O lago... está sonhando.
O espetáculo passou a se repetir todas as noites.
Virgilius passou a cobrar entrada para quem quiser assistir de perto. E já recuperou os prejuízos.
-É melhor do que cinema, eu garanto.
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