São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994
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Equipe negocia tudo, menos o fundo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

"É um dinheiro firme e certo, ou seja é a segurança de que poderemos zerar o deficit no Orçamento de 1994", disse à Folha um importante membro da equipe econômica. Como o deficit zero é condição para a segunda parte do Plano FHC –a introdução da Unidade Real de Valor como indexador dolarizado– ou o Congresso aprova o Fundo Social de Emergência ou membros da equipe vão recomendar ao ministro que não dê seguimento ao programa.
O problema político é duplo: primeiro, o Fundo fica com US$ 2,7 bilhões que deveriam ser transferidos a Estados e municípios; e, segundo, deixa dinheiro na mão do ministro da Fazenda num ano eleitoral. Segundo o ministro, esse não é um dinheiro para gastar, mas cobrir buracos do Orçamento. Mas seus adversários dizem que isso pode mudar se FHC sair candidato a presidente, deixando como ministro da Fazenda um membro de sua atual equipe.
A equipe econômica acha que o Congresso não vai votar todo o aumento de impostos e corte de gastos propostos pelo governo. Como comenta um dos membros da equipe: "Eles vão aprovar alguma coisa, malandramente, e devolver a bola para a gente."
Segundo essa mesma fonte, o programa de estabilização só pode ir em frente se, "na partida, houver convicção forte de que o ajuste fiscal está encaminhado". Daí a importância do Fundo de Emergência. Dos US$ 15,8 bilhões, US$ 6,5 bilhões serão utilizados para cobrir despesas ditas "incompressíveis", na área de Previdência e saúde. Os restantes US$ 9,3 bilhões é que seriam destinados a cobrir o buraco previsto no Orçamento de 94 e assim atingir o déficit zero neste ano.
Depois da votação do ajuste fiscal, a equipe terá de avaliar com quanto ficou para equilibrar o Orçamento. "Se o Congresso nos der 70% do pedido, tudo bem. Mas se der só uns 40%, fica difícil", diz um membro da equipe que tem posição firme: não topa continuar o programa sem a garantia de déficit zero.
Dependendo da votação do Congresso, Fernando Henrique Cardoso ficará então diante da alternativa de arriscar a segunda parte do plano mesmo com ajuste fiscal pela metade, atendendo a pressões políticas e econômicas de uma sociedade que já começa a contar com a URV, ou deixar o cargo e abrir uma crise. Entre assessores e colaboradores, a sensação é de que o ministro será obrigado a introduzir a URV.

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