São Paulo, quarta-feira, 5 de janeiro de 1994 |
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Índios negros surpreendem
CARLOS CALADO
Segundo o próprio Dollis, na época da escravidão, nos EUA, os negros encontraram fortes aliados entre os índios, que os escondiam e auxiliavam nas fugas. Essa aproximação acabou resultando não só em casamentos mistos, mas na tradição de os negros se fantasiarem de índios para os desfiles do Mardi Gras, que também influenciou diretamente músicos notáveis de Nova Orleans, como Professor Longhair e Dr. John. Até hoje, pelo menos uma dezena de tribos cultua essa tradição, sendo que as mais conhecidas internacionalmente são as dos Wild Magnolias (liderada por Dollis) e Wild Tchoupitoulas (cujo chefe pertence à mesma família dos Neville Brothers), ambas até com discos gravados. Ver e ouvir esses "black indians" faz lembrar imediatamente dos hoje decadentes (mas não menos curiosos) blocos de índios de Salvador, que nos anos 70 desempenharam importante papel no Carnaval baiano, perdendo depois seu espaço para os hoje poderosos blocos afros. Outra atração do show é a divertida The Algiers Brass Band, uma típica banda de metais das ruas de Nova Orleans, mais ou menos como aquelas que um século atrás influenciaram diretamente com sua instrumentação, polifonia e sonoridade estridente o nascimento do jazz. Nem tudo é exatamente afinado ou sincronizado durante os números da banda, que entra bem a caráter, desfilando entre as mesas da platéia –para uma banda de rua, o que vale, antes de qualquer coisa, é a animação. Tocando clássicos como "Oh, Didn't He Ramble" ou a muito apropriada "Bourbon Street Parade", a banda liderada pelo simpático trombonista Walter Moore remete ao tempo em que a música não pretendia nada mais do que a dança e a diversão. (CC) Texto Anterior: Bo traz soul com tempero de Nova Orleans Próximo Texto: Duchamp teve uma musa brasileira Índice |
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