São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Risco de contaminação

O Ministério da Fazenda publicou nota oficial protestando contra a especulação em torno da Unidade Real de Valor (URV). O governo pretende repudiar toda e qualquer tentativa de manipulação de expectativas, assegurando que a conversão dos preços de cruzeiros reais para URVs será um processo gradual e espontâneo.
Deve mesmo o governo repudiar os movimentos especulativos, não estivesse a origem das turbulências no próprio governo e não nos mercados. Afinal, foi o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Clóvis Carvalho, quem veio a público declarar que considerava a conversão de preços pelo "pico" incompatível com a estabilização. Assim, apesar de propalarem uma conversão livre e espontânea, as mesmas autoridades dão sinais de que a liberdade de preços incomoda.
Está em curso uma corrida defensiva contra o cruzeiro real, aumentos de preços que lembram as vésperas de congelamentos. Ninguém quer chegar com atrasos à data fatídica em que deverá fixar preços em URVs. Como há indefinição sobre quando e como virá esse dia, vêm os aumentos.
Há também fatores objetivos que alimentam a remarcação de preços, como a elevação da carga fiscal –para cada agente uma pressão de custos cujo único antídoto conhecido é, por enquanto, o repasse a preços.
O resultado é uma queda de braço entre o governo e os mercados, uma guerra de expectativas na qual está em jogo a confiança na política econômica. Quanto maior a aceleração de preços nessa fase anterior à URV, mais motivos terá cada agente para adotar a URV como referência estável. Entretanto, ao mesmo tempo aumentam os riscos de os preços em URV virem a ser contaminados pela superinflação em cruzeiros reais, comprometendo de vez a estabilização.

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