São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 1994
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Atrás das provas

Os primeiros dias deste ano eleitoral sugerem, infelizmente, que a campanha presidencial exibirá o mesmo baixo nível da de 1989, quando a desejável discussão de idéias e propostas cedeu lugar à pura difamação e até mesmo a expedientes sórdidos.
A ameaça de repetição de tão lamentáveis fatos fica patente com o episódio do assassinato do sindicalista Oswaldo Cruz Júnior, que havia rompido com o PT e denunciou a existência de uma suspeita rede de fluxo ilícito de recursos de sindicatos para o PT.
É evidente que essa morte tem de ser apurada à exaustão e os responsáveis punidos. Também merecem investigações profundas as denúncias de Cruz quanto ao financiamento das campanhas petistas, bem como o das campanhas de todos os outros partidos. E se o PT é tão inocente quanto proclama, não deve temer a instalação de uma CPI para a CUT.
O que faz temer pelo nível da eleição, porém, é a reação dos adversários de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro colocado nas pesquisas, ao episódio. Para algumas importantes lideranças nacionais, a inevitável suspeita de alguma motivação política para o crime tornou-se, antes mesmo de concluídas as investigações, como que uma verdade inquestionável.
Homens públicos como Paulo Maluf e Luiz Antônio de Medeiros insinuaram mesmo que o PT seria o responsável pelo crime. Deveriam agir com mais cautela e serenidade ao se pronunciarem sobre fatos de tal gravidade.
Também o governador Fleury parece ter agido com interesses políticos ao chamar o delegado Nelson Guimarães para presidir o inquérito sobre o assassinato. Guimarães é acusado pelo PT de ter sido parcial na apuração do sequestro de Abílio Diniz em 89. Isso bastaria para que outro fosse convocado, até para que o inquérito não possa ser questionado.
E assim a sociedade vê-se compelida a assistir a esse triste espetáculo em que os principais políticos do país, em nome de seus interesses pessoais, açodam a Justiça e desafiam a inteligência da população. Embora a realidade demonstre que vá ocorrer o contrário, seria bom que aqueles que pretendem conduzir o Brasil deixassem de lado a campanha pequena e se dirigissem ao que interessa, o debate de idéias para tirar o país desta profunda crise.

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